Por Luiza Rampelotti
Abril marca o mês de conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA), uma condição que afeta milhões de pessoas em todo o mundo e cuja prevalência tem crescido de forma significativa nas últimas décadas. De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, 1 em cada 36 crianças de oito anos foi identificada com TEA em 2020, conforme relatório divulgado em março de 2023. O número representa uma elevação expressiva em comparação a anos anteriores: em 2004, a estimativa era de 1 caso a cada 166 crianças; em 2012, 1 para 88; e, em 2018, 1 para 59. Os dados do CDC são amplamente utilizados como referência internacional, inclusive no Brasil, onde se estima que aproximadamente 2 milhões de pessoas estejam no espectro.
O aumento da identificação, associado a uma maior compreensão sobre o autismo, demonstra a necessidade de ampliar o debate público, combater estigmas e promover o diagnóstico precoce e o acolhimento adequado em todas as fases da vida. Ainda assim, muitos indivíduos só chegam a um diagnóstico tardiamente, já na vida adulta – momento que pode trazer tanto alívio quanto novos desafios. É o caso de Helena Bulati, jovem que passou boa parte da vida lidando com dificuldades sensoriais e sociais sem compreender sua origem, e que encontrou no diagnóstico a chave para ressignificar sua trajetória.
“Eu acho que a minha vida antes do diagnóstico, no geral, era bastante confusa“, conta Helena em entrevista à Ilha do Mel FM. Desde a infância, ela lidava com intensas dificuldades sensoriais e sociais. “Sempre tive muita sensibilidade a barulhos altos e a roupas desconfortáveis. Era muito difícil, principalmente na minha infância“, relembra.
Diagnóstico é alívio
No entanto, foi no campo das relações sociais que os maiores obstáculos se impuseram. “Eu percebia que meu comportamento era diferente do dos outros, independentemente do meu interesse. Tinha dificuldade com contato visual, ironia, sarcasmo… Até chegar ao diagnóstico, foram muitas dificuldades relacionadas à ansiedade geral e social“, desabafa.
O diagnóstico de autismo trouxe não apenas compreensão para Helena, mas também alívio. “Ele explicou muita coisa na minha vida e ajudou tanto a mim quanto às pessoas à minha volta a lidarem comigo de uma forma melhor. Não é sobre ser mais ou menos autista, mas sobre como cada pessoa pode ter diferentes combinações de características, como dificuldades de fala ou sensoriais, por exemplo“, afirma.
Para ela, conhecer o diagnóstico possibilitou a adoção de estratégias práticas para lidar com os desafios cotidianos. “Eu passei a usar um fone abafador, que só descobri depois do diagnóstico, e ele ajudou muito em situações de festas ou eventos barulhentos“, relata.
Ela também alerta para o receio comum entre pais e mães em rotular seus filhos com o diagnóstico de autismo. “Muitos pais têm medo de que o diagnóstico limite a criança, mas sem ele, ela pode acabar recebendo rótulos muito mais cruéis da sociedade – como ser vista como antipática, grossa ou estranha. A verdade é que a pessoa autista não é menos do que ninguém, apenas tem diferenças“, explica.
A importância do diagnóstico
A psicóloga Eloísa Marinho, especialista no atendimento de adultos autistas, reforça que o diagnóstico é um instrumento de libertação, especialmente para aqueles que chegam à vida adulta sem respostas claras sobre suas dificuldades.
“A gente fala em dois tipos de diagnósticos: o precoce, feito na infância, e o tardio, quando um jovem ou adulto começa a se perceber como diferente e busca avaliação“, explica à Ilha do Mel FM.
Segundo ela, o diagnóstico tardio é extremamente relevante, pois “representa o fim de uma vida de sofrimento sem nome“, especialmente para aqueles que cresceram em uma época em que o autismo era pouco conhecido.

Entre os sinais que merecem atenção estão o isolamento social acentuado, a sensibilidade sensorial (especialmente auditiva e tátil), a dificuldade de comunicação, os interesses restritos e a seletividade alimentar. “É importante diferenciar o isolamento típico da adolescência moderna, muito associada às redes sociais, do isolamento autista, que é mais profundo e desconectado“, esclarece Eloísa.
No caso dos adultos, a especialista destaca a recorrência de dificuldades para se manter em empregos, problemas de relacionamento conjugal e desconforto com interações sociais. “Esses sinais também indicam que uma avaliação pode ser necessária. Muitas vezes, o autista adulto é visto apenas como ‘esquisito’ pela sociedade, quando, na verdade, precisa de acolhimento e suporte“.
Segundo ela, após o diagnóstico em adultos, a psicoterapia é fundamental para que a pessoa compreenda seus comportamentos, aprenda estratégias para lidar com desafios e melhore sua qualidade de vida.









