A Prefeitura de Paranaguá anunciou na última semana a criação do projeto “Alcateias Escolares de Paranaguá”, uma parceria com os Escoteiros do Brasil – Paraná que pretende integrar o escotismo como atividade de contraturno escolar na rede municipal de ensino. A iniciativa foi apresentada como inovadora e alinhada com os compromissos da atual gestão com a educação integral, mas, até o momento, carece de transparência quanto aos aspectos técnicos, jurídicos e financeiros.
De acordo com a secretária municipal de Educação, Fabíola Soares Arcega, trata-se de um projeto piloto que irá contemplar, inicialmente, quatro instituições de ensino e atender um total de 96 alunos. Segundo ela, as turmas, denominadas alcateias, serão conduzidas por um chefe escoteiro profissional e dois auxiliares.
“Cada alcateia será conduzida por um chefe escoteiro profissional e dois auxiliares, garantindo a aplicação qualificada da metodologia escoteira no ambiente escolar. A iniciativa reforça o compromisso da administração municipal com a inovação pedagógica e com ações concretas para o desenvolvimento da juventude parnanguara”, afirmou a secretária.
O prefeito Adriano Ramos (Republicanos) também celebrou a parceria. “A iniciativa desperta outro olhar na educação municipal. A parceria tende a fortalecer a futura geração, pois o escotismo é um importante aliado na formação integral dos nossos estudantes”, declarou.
Sem detalhes
Contudo, apesar da divulgação pública, o projeto ainda não teve seus detalhes formalizados nem disponibilizados para consulta. Os questionamentos feitos pela reportagem à secretária não foram respondidos satisfatoriamente e as dúvidas persistem sobre o modelo de parceria adotado, os custos envolvidos, as datas de início das atividades e os critérios para seleção das unidades escolares e dos estudantes contemplados.
Em entrevista à Ilha do Mel FM, a secretária Fabíola Arcega limitou-se a dizer que o projeto está em fase de formalização e que, por ora, não poderia oferecer mais informações além das já divulgadas de forma incompleta pela Prefeitura. Questionada sobre o tipo de parceria (se público-privada, voluntária ou contratual), o formato de remuneração dos escoteiros e a origem dos recursos para aquisição dos uniformes padronizados, a resposta foi que “tudo ainda requer um pouco de cuidado antes de divulgação”.

A secretária também citou seu envolvimento pessoal com o escotismo como justificativa para a aposta no projeto. “Meus filhos foram escoteiros, hoje ainda tenho um filho escoteiro, então isso é minha vivência. Eu sei o quanto isso transformou a vida dos meus filhos”, disse.
Ensino integral segue suspenso
O projeto surge no momento em que a rede municipal de ensino enfrenta a suspensão das atividades em tempo integral. A modalidade, considerada essencial por muitas famílias, especialmente aquelas em que os responsáveis trabalham em período integral e não têm com quem deixar os filhos, foi interrompida pela atual gestão sob a justificativa de dificuldades estruturais e orçamentárias.
“Temos que ter escola o tempo todo para as nossas crianças. Mas como vamos ter se mais de 100 professoras se aposentaram no último ano e não temos estrutura nem pessoal suficiente?”, afirmou o prefeito Adriano Ramos em entrevista à Ilha do Mel FM.
Em um levantamento realizado pela Ilha do Mel FM junto à Paranaguá Previdência, foi constatado que 67 profissionais da Secretaria Municipal de Educação de Paranaguá se aposentaram ao longo de 2024. Nos primeiros cinco meses de 2025, outras 11 aposentadorias foram registradas, totalizando 78 profissionais desligados do serviço ativo em menos de um ano e meio.
Segundo o prefeito, o Município está impedido de realizar novas contratações devido aos limites da Lei de Responsabilidade Fiscal. Apesar de prometer o retorno da educação integral como compromisso de governo, a Prefeitura ainda não apresentou prazos ou plano de reestruturação para a política.
Nesse contexto, o projeto “Alcateias Escolares” aparece como uma possível alternativa para suprir a ausência de um contraturno efetivo, mas também carece de informações básicas sobre sua execução, abrangência e sustentabilidade. Até o momento, não há detalhes sobre o modelo de parceria, critérios de seleção das escolas, origem dos recursos ou cronograma de implementação.
A reportagem segue à disposição da Secretaria Municipal de Educação para publicar eventuais esclarecimentos e informações complementares assim que forem formalizadas e disponibilizadas à imprensa. Até lá, o que se sabe é que o projeto existe, está em fase inicial, mas segue sem prazo, sem contrato e sem transparência.









