Por Luiza Rampelotti com entrevistas de Alex Vizine
Na maior obra portuária em andamento no Brasil, um personagem inusitado conquistou o coração de trabalhadores e visitantes: ele é o Marcelo, um gato de olhos azuis que apareceu, magro e assustado, em novembro de 2024 na área do Moegão, no Porto de Paranaguá, e nunca mais foi embora. Hoje, ele é a mascote oficial do canteiro de obras e símbolo de afeto e bem-estar entre os trabalhadores do Consórcio Moegão.
Marcelo não ganhou apenas um nome, mas também um crachá personalizado. No documento, criado por um estagiário da obra nos moldes do crachá funcional da empresa pública Portos do Paraná, que administra os portos de Paranaguá e Antonina, ele é identificado como “engenheiro de sonecas”, com acesso liberado às áreas “MIAU” – numa alusão bem-humorada às áreas restritas definidas pelas letras no crachá dos demais colaboradores.
O responsável por apresentar a história da mascote é Felipe Zeppelini, engenheiro de segurança do trabalho do consórcio. “Ele apareceu um dia andando em cima de um container. Um dos nossos engenheiros, que tem vários gatos em casa, trouxe ração. Colocamos no potinho e, no final do dia, ele apareceu. Estava bem magro, assustado, mas depois que comeu uns três ou quatro potes, acabou ficando”, contou Zeppelini em entrevista à Ilha do Mel FM.
Desde então, o felino se tornou parte da rotina da obra. Tem uma pequena área com bancos e mesinha, apelidada pelos trabalhadores de “pracinha”, onde repousa durante o dia e recebe o carinho dos que passam pelo local. “Todo mundo tem contato com ele: funcionários, visitantes, pessoas que vêm entregar currículo… Marcelo virou uma referência do ambiente acolhedor que construímos aqui”, destaca o engenheiro.
O nome Marcelo, segundo os trabalhadores, surgiu de uma brincadeira: além dos olhos azuis marcantes, o gato magro lembrava fisicamente um técnico de segurança da obra com traços semelhantes.
Além de motivo de afeto, a presença do animal também é um indicativo simbólico da qualidade do ambiente de trabalho. “A gente brinca que a permanência do Marcelo aqui mostra como o ambiente é bom. Ele ficou porque se sentiu seguro, acolhido, e isso diz muito sobre as relações que estamos construindo durante essa obra de tamanha relevância para o país”, afirma Zeppelini.
Mesmo não sendo muito adepto de colo, Marcelo adora receber carinho e já virou celebridade entre os colaboradores do porto e familiares dos funcionários. “Já teve esposa e marido de funcionário que veio aqui só para conhecer o Marcelo”, conta, entre risos, o engenheiro.
Sobre o Moegão
O Moegão, que recebe investimento de R$ 600 milhões, tem como foco o aumento da produtividade portuária, a redução de cruzamentos ferroviários na cidade — de 16 para cinco — e a integração entre os operadores portuários e o cais. Atualmente, mais de 47% da obra já foi concluída, e a expectativa é que seja entregue até o final de 2025. Ao todo, 353 funcionários trabalham na construção.
“Estamos revolucionando a maneira de receber as cargas de grãos pela ferrovia, pois este sistema que centraliza o recebimento ferroviário não existe em outro porto no Brasil”, afirmou o diretor de Engenharia e Manutenção da Portos do Paraná, Victor Kengo.
Com o Moegão, o acesso ferroviário ao Porto de Paranaguá será adequado para a operação do sistema. A carga será descarregada dos vagões, caindo nos funis do subsolo e transportada por correias aos elevadores de canecas, de onde a carga será elevada para as linhas de correias transportadoras aéreas que se interligarão aos terminais portuários.
Os grãos serão recebidos nos terminais e, na sequência, a carga será enviada aos navios pelo corredor de exportação. O novo modelo de descarga ferroviária vai aumentar ainda mais a movimentação. A expectativa é aumentar em 60% a capacidade ferroviária, passando de 550 para 900 vagões por dia.











