Por Luiza Rampelotti
A cidade de Guaratuba iniciou neste mês uma ação inédita no cuidado com pacientes da fila da cirurgia bariátrica pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A iniciativa prevê o acompanhamento contínuo de cerca de 80 pessoas por uma equipe multidisciplinar composta por médicos, psicólogos, nutricionistas e educadores físicos, com foco em promover saúde integral e ampliar a sobrevida de pessoas com obesidade grave, independentemente da realização da cirurgia.
Os encontros estão acontecendo semanalmente, sempre às sextas-feiras, no auditório do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS). Segundo a Prefeitura, o novo ambulatório foi concebido para oferecer muito mais do que a espera pela cirurgia: é um espaço permanente de escuta, orientação e apoio.
“A intenção é acompanhar esse paciente durante dois anos, para que ele consiga emagrecer clinicamente. A cirurgia será indicada apenas se, ao final desse processo, os resultados não forem suficientes. Nosso objetivo é que ele não volte a engordar”, explicou o médico Richard Pereira Medeiros, da Secretaria Municipal de Saúde de Guaratuba, em entrevista à Ilha do Mel FM.
Durante cada sessão, os pacientes recebem orientações sobre o funcionamento do programa, têm a oportunidade de esclarecer dúvidas e estabelecem, com a equipe, metas realistas de saúde e bem-estar. O diferencial do programa é sua abordagem contínua e humanizada, que valoriza o tratamento clínico e psicológico antes da decisão pela cirurgia.
Fluxo organizado e integração com a rede básica

Para garantir o sucesso da iniciativa, a equipe multidisciplinar também está realizando visitas nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) do município, organizando o fluxo de atendimento para os pacientes com sobrepeso.
“Pedi que as UBSs tratem esses pacientes de forma diferenciada, como fazem com as gestantes. Eles não devem esperar horas ou dias por atendimento. A unidade faz os exames, diagnostica comorbidades e encaminha à Secretaria de Saúde, onde eu faço a regulação. O paciente então passa a ser acompanhado pela equipe multidisciplinar”, detalhou Dr. Richard.
Após dois anos de acompanhamento, um relatório completo elaborado por cada profissional é enviado à 1ª Regional de Saúde de Paranaguá, que audita o processo. Se o paciente for aprovado, o encaminhamento segue para o hospital credenciado pelo Estado. Caso o auditor ou o especialista recusem a indicação da cirurgia, o paciente retorna ao atendimento clínico na UBS.
Mais do que cirurgia: mudança de vida
A proposta do ambulatório não é apenas tratar, mas transformar. O cuidado contínuo inclui intervenções nutricionais, suporte psicológico e incentivo à prática de atividades físicas, mesmo que, segundo normas estaduais, o esporte não integre oficialmente a estrutura do ambulatório.
“Quero agradecer à Secretaria de Esporte, que aceitou prontamente participar. Mesmo não sendo exigência do Estado, fizemos questão de incluir. Já estudamos a criação de uma academia municipal voltada ao atendimento pré e pós-operatório desses pacientes”, adiantou Dr. Richard.
A gestão municipal defende que esse tipo de abordagem integrada pode evitar agravos de saúde como hipertensão, AVC, insuficiência renal e infarto, além de contribuir para a autonomia e qualidade de vida dos pacientes.









