Por Luiza Rampelotti
A chegada do verão e as recentes chuvas intensas têm exposto, mais uma vez, um problema persistente nas cidades do Litoral do Paraná: a interrupção no abastecimento de água. Moradores de Pontal do Paraná, Guaratuba, Matinhos e Morretes convivem com a falta d’água de forma recorrente, seja durante temporais – como os registrados na última quinta-feira (2) – ou na alta temporada, quando o aumento populacional eleva consideravelmente a demanda.
Na semana passada, bairros como Rocio, Anhaia e Barro Branco, em Morretes, além de diversos balneários em Pontal do Paraná e Guaratuba, enfrentaram dias seguidos sem fornecimento de água, agravando a rotina dos moradores e comerciantes. Para entender as causas dessa situação, a Ilha do Mel FM conversou com Fábio Basso, gerente geral da Sanepar na Região Metropolitana e o Litoral. Ele explicou que uma série de fatores técnicos e estruturais está por trás das interrupções.
“Alguns dos fatores que podem levar à falta de água incluem o rompimento de adutoras, quedas de energia elétrica e danos em equipamentos que bombeiam água para as residências. Além disso, chuvas muito intensas aumentam a turbidez da água captada, exigindo que as estações de tratamento sejam temporariamente desligadas para garantir a qualidade do fornecimento“, explica.
A turbidez e o impacto nas estações de tratamento
Basso destaca que o aumento da turbidez é uma das principais causas das interrupções. Em Matinhos, por exemplo, uma estação de tratamento ficou fora de operação por 17 horas após as fortes chuvas da última semana. “Nós desligamos a estação para evitar que água com excesso de sedimentos chegue às torneiras da população, seguindo a portaria do Ministério da Saúde“, afirma.
Contudo, segundo ele, mesmo com a paralisação, o abastecimento não é imediatamente comprometido graças à presença de grandes reservatórios de água distribuídos nos municípios. “Matinhos, Pontal do Paraná e Guaratuba contam com reservatórios que mantêm o fornecimento durante curtos períodos de paralisação”, acrescenta Basso.
Planejamento e preparação para eventos climáticos
Quando questionado sobre a capacidade da rede de distribuição de suportar eventos climáticos extremos, o gerente explica que o sistema é projetado para enfrentar condições adversas comuns no Brasil. “A infraestrutura de captação, reservatórios e conjuntos motobombas é planejada para suportar chuvas fortes e inundações. Recentemente, uma elevação significativa do Rio Cambará, que subiu de 1,70 metros para mais de 5 metros, não comprometeu nossos equipamentos principais, pois eles estão instalados em níveis mais altos, prevenindo danos”, diz.
Entretanto, eventos extremos podem exigir manutenções pontuais e ajustes nas operações. “Nós trabalhamos constantemente para modernizar e expandir as redes, garantindo que problemas climáticos causem o menor impacto possível”, reforça.
Aumento populacional durante o verão
Durante a temporada de verão, o Litoral do Paraná recebe milhares de turistas, o que gera uma alta demanda por água. Segundo Basso, essa sobrecarga pode contribuir para falhas momentâneas. “A Sanepar se prepara ao longo do ano para esses momentos de pico, mas o consumo excessivo de água potável por parte de alguns moradores e veranistas é um desafio adicional“, destaca.
Ele lembra que hábitos inadequados, como o uso de água tratada para lavar calçadas e carros ou o reabastecimento constante de piscinas, impactam negativamente o abastecimento. “Mesmo com os reservatórios cheios, se não houver consumo consciente, a água não chegará a todas as residências”.
Por isso, o gerente também enfatiza a importância de cada residência contar com uma caixa d’água adequada. “Ter uma reserva que garanta abastecimento por pelo menos 24 horas é fundamental para minimizar os impactos em momentos de manutenções ou interrupções temporárias”, orienta.
Planos de contingência e investimentos
De acordo com ele, para lidar com situações emergenciais, a Sanepar conta com planos de contingência que incluem o uso de caminhões-pipa e a instalação de contêineres de água. Recentemente, foi concluída a duplicação de uma adutora entre Ipanema e Shangri-lá, em Pontal do Paraná, aumentando a capacidade de transporte de água na região.
“Ano após ano, ampliamos e modernizamos nossas infraestruturas para garantir que o Litoral receba um serviço de qualidade, mesmo em períodos críticos”, conclui Basso.