Cristian Amaral de Oliveira, de 23 anos, morreu na madrugada da última terça-feira (6), no Pronto Socorro de Guaratuba. A mãe do jovem, Josiane Amaral de Souza, afirma que tentou acionar o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) sem sucesso e só conseguiu socorro após insistir com o Corpo de Bombeiros. O caso ganhou ainda mais repercussão após o vereador André Montemezzo (Podemos) ser acusado de insultar a mãe da vítima durante o velório.
Diante da repercussão, o prefeito Maurício Lense (Podemos) anunciou, nesta sexta-feira (9), que irá instaurar uma sindicância para apurar a conduta dos envolvidos e afirmou que a situação não ficará impune. Montemezzo, por sua vez, perdeu o cargo de líder do governo na Câmara Municipal.
Entenda a linha do tempo dos fatos:
- Madrugada de terça-feira (6) — Falha no socorro
De acordo com o relato da mãe, Cristian começou a passar mal durante a madrugada. Josiane afirma que entrou em contato com o Corpo de Bombeiros, mas foi orientada a ligar para o SAMU (192). Em nova ligação, informou que não estava conseguindo ambulância, e apenas depois disso uma equipe dos bombeiros foi enviada.
Quando os socorristas chegaram, Cristian já havia sido levado por familiares ao pronto-socorro, mas não resistiu e morreu na unidade.

Nota do CISLIPA nega falha
O Consórcio Intermunicipal de Saúde do Litoral do Paraná (CISLIPA), responsável pela gestão do SAMU na região, afirmou que não houve registro de chamadas relacionadas ao caso entre 2h12 e 2h44, intervalo citado pela mãe. Segundo o órgão, a única chamada naquela noite foi registrada às 21h04, sem relação com o caso.
A nota também informa que não foram identificadas falhas técnicas no sistema de atendimento.
Estrutura precária: ausência de ambulância Alfa
Guaratuba conta com base do SAMU, mas não dispõe de uma ambulância do tipo Alfa — veículo de suporte avançado com estrutura de UTI móvel, considerada essencial para estabilização de pacientes em estado grave. O serviço regional é centralizado em Paranaguá, o que agravou as críticas ao modelo de regionalização do SAMU no litoral.
- Quarta-feira (7) — Conflito durante o velório
Durante o sepultamento de Cristian , a mãe do jovem afirma ter sido insultada pelo vereador André Montemezzo, que teria reagido a postagens feitas por ela nas redes sociais cobrando providências do poder público. “Me chamou de safada, de sem-vergonha. Ele falou que eu não tinha que ficar postando nada, que eu não era para ter falado dele”, disse Josiane.
A mãe da vítima afirmou que pretende registrar boletim de ocorrência nesta sexta-feira (9).
Montemezzo negou as acusações e afirmou que “não conhece” Josiane. Em nota publicada em suas redes sociais, acusou a imprensa local de distorcer os fatos. “Isso é invenção da Rádio Litorânea. Eu nem sei quem é essa mulher. Estão distorcendo os fatos para me atacar”.
- Sexta-feira (9) — Prefeito anuncia sindicância
O prefeito de Guaratuba se manifestou publicamente sobre o caso apenas nesta sexta-feira (9). Em vídeo, Maurício Lense lamentou o ocorrido, se solidarizou com a família da vítima e afirmou que o caso será rigorosamente investigado.
Segundo Lense, a Prefeitura irá oficiar o CISLIPA, responsável pela gestão do SAMU, solicitando relatórios para apurar a dinâmica do atendimento e verificar se houve falha. “Sentimos muito pela perda dessa família e não vamos deixar isso impune. Caso seja constatada falha no serviço municipal, será instaurada sindicância para apuração rigorosa dos fatos e dos possíveis responsáveis”, afirmou o prefeito.
Lense também reforçou seu compromisso com a verdade e com a prevenção de novas tragédias. “Não podemos permitir que situações como essa se repitam em nosso município”, concluiu.

Montemezzo perde liderança do governo e acumula polêmicas no mandato
A presidência da Câmara Municipal confirmou que o vereador André Montemezzo não ocupa mais o cargo de líder do governo na Casa de Leis. A decisão foi comunicada pelo presidente do Legislativo, Ricardo Borba (Podemos) e, segundo ele, partiu do próprio prefeito Maurício Lense, após a repercussão negativa envolvendo o parlamentar. Até o momento, o Executivo ainda não indicou quem assumirá a função de articulação entre o governo e o parlamento.
Terceiro vereador mais votado nas eleições de 2024, com 633 votos, Montemezzo já vinha protagonizando episódios controversos desde o início do mandato. Em fevereiro, causou indignação ao usar a tribuna para criticar duramente o Hospital Regional do Litoral, em Paranaguá, comparando a unidade a um açougue.
Além das críticas ao sistema de saúde, o vereador acumulou outros momentos de tensão em plenário. Em diferentes sessões, utilizou expressões consideradas ofensivas por colegas de bancada, como “isso aqui virou circo” e “tem vereador que só serve pra bater palma”, o que gerou pedidos de retratação e repercussões negativas nas redes sociais.
Montemezzo também foi alvo de críticas por declarações relacionadas a licitações municipais. Em vídeo publicado em suas redes sociais, o vereador admite ter atuado para dificultar a participação de empresas de fora do município em certames promovidos pela Prefeitura de Guaratuba. A postura, segundo especialistas, contraria princípios fundamentais da administração pública e levanta suspeitas de favorecimento indevido a interesses locais.

A conduta contraria a Lei nº 14.133/2021, que estabelece normas para licitações e contratos administrativos e veda expressamente qualquer prática que restrinja indevidamente a competitividade entre empresas. O episódio levanta o debate sobre o uso da função pública para interferência em processos licitatórios, violando os princípios da isonomia, legalidade, impessoalidade e publicidade.
De acordo com a legislação, o direcionamento de licitações pode acarretar a nulidade do procedimento e a responsabilização administrativa, civil e penal dos envolvidos.
Agora, com o agravamento da crise envolvendo a morte do jovem Cristian Amaral de Oliveira e a acusação de insulto à mãe da vítima, Montemezzo vê sua imagem política cada vez mais desgastada.









