Na manhã desta terça-feira (23), mais uma fase da Ação Integrada de Fiscalização Ambiental (AIFA) está sendo realizada no bairro Jardim Iguaçu, em Paranaguá, com foco na demolição de construções irregulares em áreas de mangue. A operação, que mobiliza uma força-tarefa com participação de órgãos federais, estaduais e municipais, tem como objetivo conter o avanço da degradação ambiental em áreas de preservação permanente, especialmente os manguezais, que ocupam grande parcela do território urbano da cidade.
A ação ocorre desde setembro de 2023 e é coordenada por instituições como o Ministério Público Federal, Ministério Público do Paraná, Ibama, Instituto Água e Terra (IAT), Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Batalhão de Polícia Militar Ambiental, Guarda Civil Municipal e Prefeitura de Paranaguá. A operação desta terça está sendo marcada pela retirada de construções desabitadas, as chamadas “taperas”, em pontos de ocupação recente no bairro, o que tem gerado reações entre representantes da comunidade local.
Comunidade denuncia insegurança habitacional
Durante a operação, lideranças comunitárias como Fernanda dos Santos, presidente da Associação de Moradores do Jardim Iguaçu, e Daniele Bello, presidente da Vila Marinho, acompanharam de perto a ação e manifestaram preocupação com o futuro das famílias envolvidas.
“O que está acontecendo hoje é a desapropriação de pequenas estruturas construídas em área de mangue. Essas casas não têm moradores, mas isso não significa que a gente não se preocupe com o que está acontecendo aqui”, afirmou Fernanda. Ela reforçou que, embora compreenda a importância da proteção ambiental, a cidade precisa apresentar alternativas reais para as famílias em situação de vulnerabilidade.
“A cidade precisa de projetos habitacionais. Sabemos que há obras em andamento, mas as famílias que hoje estão sendo notificadas merecem uma resposta concreta. O que será feito com esses cadastros? Para quando está prevista a relocação? Não se pode simplesmente demolir e ir embora sem oferecer um caminho digno de moradia”, questionou a liderança comunitária.
Daniele Bello, que também atua na região, destacou o impacto social da operação. “É muito triste. São famílias que, por não terem pra onde ir, acabam ocupando áreas de mangue. E aí, quando o poder público aparece, vem com notificação. Mas para onde vão essas pessoas? A gente precisa de estrutura, de sensibilidade por parte dos órgãos competentes”, pontuou.
Moradia x Meio Ambiente: o impasse se repete
As ocupações irregulares em áreas de mangue são recorrentes em regiões periféricas de Paranaguá, onde a falta de políticas públicas habitacionais efetivas empurra parte da população para zonas de risco ambiental. As ações da AIFA têm respaldo legal e visam coibir esse avanço, mas, na prática, revelam uma tensão constante entre a proteção dos recursos naturais e o direito à moradia.
Embora a operação desta terça-feira tenha se concentrado em estruturas não habitadas, o receio de que novas remoções possam atingir famílias instaladas de forma precária preocupa os moradores. “Hoje foi uma tapera sem morador. Mas amanhã? Precisamos de garantia de que ninguém será jogado na rua”, comentou Fernanda.
Enquanto a AIFA avança, moradores da região exigem mais do que apenas fiscalizações pontuais. Cobram planejamento urbano, investimento em habitação social e diálogo permanente com as comunidades afetadas.
As lideranças comunitárias afirmam que continuarão acompanhando de perto as ações no bairro e reforçam a necessidade de que o poder público apresente um plano concreto de atendimento às famílias notificadas, garantindo que a defesa do meio ambiente caminhe lado a lado com o respeito aos direitos sociais. “Estamos aqui, atentos. Não somos contra a proteção do meio ambiente, mas somos a favor de políticas públicas justas e humanas”, finalizou Fernanda.
A operação segue em andamento e esta reportagem poderá ser atualizada a qualquer momento.














