O avanço acelerado da automação nos portos do mundo foi tema central da maior conferência internacional do setor portuário em 2025, reunindo representantes de mais de 60 países para discutir caminhos que conciliem tecnologia, condições de trabalho e futuro da mão de obra humana. O encontro, intitulado People Over Profits: Anti-Automation Summit, ocorreu nos dias 5 e 6 de novembro, no Pavilhão Carlos Lopes, em Lisboa, organizado pelo International Dockworkers Council (IDC) e pela International Longshoremen’s Association (ILA).
Paranaguá esteve representada por José Eduardo Antunes, presidente do Sindicato dos Conferentes de Carga e Descarga nos Portos do Paraná (Confepar), que levou ao debate a realidade vivida na cidade – um dos portos mais movimentados da América Latina e também um dos que mais avançam em processos de automação no país.

Antunes, que também é vice-presidente da Frente Intersindical de Paranaguá, diretor da Federação Nacional dos Conferentes e Consertadores de Carga e Descarga, Vigias Portuários, Trabalhadores em Bloco e Amarradores de Navios nas Atividades Portuárias (FENCCOVIB), 1º vice-presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) no Paraná e secretário adjunto de Políticas para a Economia do Mar da CTB Nacional, tem atuado como uma das vozes centrais na defesa do trabalhador portuário frente às transformações tecnológicas.
“Relatei os casos mais evidentes de automação e digitalização no Brasil, que ocorrem inclusive no Porto de Paranaguá. Não falamos de um cenário futuro. Isso já está acontecendo, impactando a rotina, as funções e a organização do trabalho”, afirmou Antunes.
Automação: progresso ou substituição humana?
A pergunta que norteou a conferência foi direta: a tecnologia será aliada do trabalhador ou instrumento de substituição da força de trabalho? Para as representações sindicais, a resposta também foi: automação não pode significar eliminação de pessoas.
O presidente da International Longshoremen’s Association (ILA), Harold J. Daggett, foi enfático ao classificar o avanço tecnológico sem contrapartidas sociais como uma ameaça concreta à classe trabalhadora. “A automatização constitui um ataque total à nossa existência. Se qualquer empresa decidir implementar automação destruidora de empregos, nós a enfrentaremos com uma greve global de três a quatro semanas”, afirmou.
Pelo International Dockworkers Council (IDC), o vice-presidente executivo da ILA, Dennis A. Daggett, reforçou que a estratégia não se limita a modernizar processos, mas pode, na prática, priorizar lucro em detrimento da presença humana nas operações. “A automação não busca modernizar os portos, mas aumentar lucros às custas da eliminação de profissionais”, disse.
Antunes contextualizou o impacto dessa lógica na realidade parnanguara e defendeu que o processo tecnológico não seja imposto, mas pactuado. “Não somos contra a tecnologia. Somos contra a exclusão. O que está em jogo é o modelo: automação para servir ao porto e ao trabalhador, ou automação para eliminar o trabalhador. Esse limite precisa ser definido coletivamente, e não imposto”, afirmou.
Pauta global com implicações locais
A conferência em Lisboa consolidou diretrizes internacionais para enfrentar a automação que ameaça postos de trabalho, materializadas no Documento de Resoluções da Cúpula. Embora global, o conteúdo dialoga diretamente com o Porto de Paranaguá, onde a modernização já faz parte da rotina operacional.
O texto estabelece que tecnologia não pode significar eliminação de empregos, e que qualquer mudança deve ocorrer com participação sindical, negociação coletiva e garantia de requalificação profissional como direito, não promessa. Também determina que impactos sociais sejam avaliados antes da implementação das inovações, assegurando uma transição gradual e socialmente responsável, que preserve a presença do trabalhador no futuro da atividade portuária.
O encontro ainda oficializou a criação da Aliança Marítima Global contra a automação excludente, uma frente permanente de cooperação entre sindicatos de diferentes países. Com a participação de José Eduardo Antunes, Paranaguá passa a integrar esse núcleo estratégico de mobilização internacional.
“Paranaguá não está na margem da discussão. Está no centro dela. Nosso porto é grande, estratégico, competitivo, e isso traz modernização, mas também pressões. A diferença é que agora estamos conectados ao mundo, construindo respostas conjuntas, e não isoladas”, afirmou.
Para o dirigente, a conferência não produziu apenas diretrizes, mas acelerou um debate concreto que já está em curso no território. “Quando a automação avança, a função do sindicato é garantir que ninguém seja empurrado para fora do porto que ajudou a construir. Essa luta tem endereço, tem nome, tem impacto. Em Paranaguá, ela já começou”, concluiu.
*Fonte: Assessoria de imprensa












