Por Nick Paiffer
Em 01 de fevereiro de 1885, os trilhos do Paraná receberam sua primeira viagem histórica de trem. Às nove da manhã, partia da estação de Curitiba um comboio conduzindo autoridades, artistas, políticos e jornalistas rumo a Paranaguá, para celebrar a inauguração do primeiro caminho de ferro da província. A cena, descrita pelo jornal curitibano “19 de Dezembro”, é de arrepiar: “O vapor do mar, em galas, saudava a locomotiva, vapor de terra.”
O trem cruzou a serra e chegou às cinco da tarde em Paranaguá, após uma viagem sem incidentes. No dia seguinte, o vapor América, vindo do Rio de Janeiro, atracava em festa. “Centenas de foguetes estrugiram nos ares de todos os lados. Era uma cena interessante.” O repórter descreve um encontro entre continentes, símbolos e povos. A bordo do navio, estavam diplomatas europeus, senadores, artistas e a orquestra alemã, que dialogava em música com a banda do vapor Marumby.
“As nações da Europa civilizada, que também estava presente, nas pessoas de diversos diplomatas, abraçavam o Brasil, neste dia em que, por mais um fato, afi rmava o jus de nação civilizada, conquistando respeito de nações estrangeiras.” – Jornal “19 de dezembro” publicado em 04/02/1885.
A memória impressa daquele 01 de fevereiro de 1885, que eternizou a emoção da chegada do trem a Paranaguá, hoje está sob os cuidados do Instituto Histórico e Geográfi co de Paranaguá, e pode ser vista na imagem acima, como uma janela aberta ao passado.
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O começo de tudo
Essa mesma estação — ainda que em outra arquitetura — foi o cenário da chegada desses visitantes. Um símbolo de modernidade, de progresso e de encontros. Desde o início, a Estação Ferroviária de Paranaguá foi sobre o futuro. Era o ponto fi nal de um feito monumental da engenharia brasileira: a ligação entre o litoral e a capital por ferrovia, desafi ando a Serra do Mar com seus túneis, trilhos e sonhos.
Além das suas paisagens de tirar o fôlego, a estrada de ferro que liga Curitiba ao litoral é até hoje uma das obras de engenharia mais desafi adoras já realizadas. Imagina só: no fi nal do século XIX, havia pouca tecnologia e muita coragem, engenheiros e trabalhadores abriram caminho pela Serra do Mar, no meio da mata fechada, enfrentando chuvas, morros e precipícios. Foram túneis escavados na marra, viadutos no meio do nada, mais de 100 pontes! Tudo isso para conectar o interior ao mar e fazer a economia girar. E conseguiram. Essa ferrovia virou orgulho nacional e até hoje é considerada uma das viagens de trem mais bonitas do mundo.
Mas a estação como a conhecemos hoje, com sua arquitetura encantadora e presença imponente no coração de Paranaguá, só foi reformada e reinaugurada em 07 de maio de 1922, em meio às celebrações do centenário da Independência do Brasil.
Futuro ainda pulsa aqui
Hoje, a estação está desativada — ao menos como terminal ferroviário. Mas não impede de continuar sendo um lugar de encontros. O que antes transportava carga e gente, hoje carrega histórias, arte e cultura parnanguara. O que antes levava progresso, agora abriga a memória viva da cidade mãe do Paraná.
A estação não parou no tempo — ela o abriga. E ela continua sendo sobre o futuro: o futuro pelo turismo, pela arte, pela ocupação criativa da população. Ela segue como palco de encontros, como em 1885, quando “as emoções da alegria juntavam-se às vibrações do patriotismo” e “o entusiasmo do fato” arrepiava a cidade.
Hoje, aos 103 anos da Estação Ferroviária como a conhecemos, que ela seja novamente lugar de encontros, de cultura, de memória viva e de sonhos possíveis.
Afinal, o trem da história pode até ter parado aqui, mas a jornada continua.









