Por Luiza Rampelotti com entrevistas de Mauro Júnior
Nesta sexta-feira (16), foi realizada, na Vila do Povo, em Paranaguá, a 22ª fase da Ação Integrada de Fiscalização Ambiental (AIFA), operação que mobiliza uma força-tarefa interinstitucional para conter a degradação dos manguezais e coibir ocupações irregulares em Áreas de Preservação Permanente (APPs). A ação contou com a participação conjunta da Polícia Federal, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), Ministério Público Federal (MPF), Ministério Público do Estado do Paraná (MPPR), Polícia Rodoviária Federal (PRF), Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA), Guarda Civil Municipal (GCM), Instituto Água e Terra (IAT) e das Secretarias Municipais de Meio Ambiente, Obras, Assistência Social, Urbanismo e Segurança Pública de Paranaguá.
A operação AIFA acontece desde setembro de 2023 e envolve órgãos federais, estaduais e municipais com o objetivo de combater crimes ambientais relacionados à ocupação irregular de áreas protegidas e à degradação dos ecossistemas de mangue no município.
A Ilha do Mel FM acompanhou os trabalhos no final da Rua Santa Catarina, na Vila do Povo, onde uma retroescavadeira removia aterros consolidados à margem do mangue – esforço que visa interromper o avanço da degradação e preparar o terreno para ações de regeneração ambiental.
Segundo o agente ambiental federal José de Souza Alves Filho, do IBAMA, esta fase da operação prioriza a retirada de materiais de descarte irregular, como entulho e restos de obra. “Nossa perspectiva hoje é tirar mais ou menos 50 caminhões de entulho e resto de obra que foram depositados de forma irregular. Esses materiais impedem a regeneração natural dos bancos de mangue em Paranaguá”, explicou o agente em entrevista à Ilha do Mel FM.
Regenerar o que ainda pode ser salvo
José Filho explicou que a operação segue um plano de duas fases: a primeira, focada em interromper a destruição ambiental; e a segunda, voltada à recuperação das áreas degradadas. Para isso, há uma articulação com o Ministério Público para o repasse de recursos federais.
“Temos uma perspectiva de destinação de R$ 43 milhões para Paranaguá, voltados exclusivamente para projetos de recuperação dos manguezais. Esses valores estão sendo alinhados com o Ministério Público e devem financiar as próximas etapas da operação”, afirmou.
Com esses recursos, estão previstas ações estruturadas de replantio, cercamento, contenção de novas ocupações e educação ambiental junto às comunidades locais.
Ocupações irregulares e omissões históricas
A situação em algumas regiões de Paranaguá é crítica. Casas chegaram a ser construídas dentro do leito dos rios, desrespeitando completamente o recuo mínimo de 50 metros estabelecido pela legislação ambiental.
“Hoje temos casa dentro do rio. Isso está totalmente equivocado. Sem querer responsabilizar ninguém diretamente, mas quem permitiu esse tipo de ocupação foi conivente com a degradação. Corrigir esse erro operacional vai exigir muito trabalho e união de esforços entre os órgãos ambientais e a gestão pública”, disse José Filho.
Embora a fase atual não tenha como foco principal a demolição de construções, estruturas desocupadas localizadas em áreas como o Emboguaçu estão na lista de possíveis remoções ainda nesta etapa.
“A gente acredita que, com o apoio do Estado, do Município e da população, ainda é possível recuperar uma parte importante do manguezal de Paranaguá. Esse bioma é essencial para a biodiversidade, para o equilíbrio ecológico e também para a qualidade de vida das futuras gerações”, concluiu José FIlho.
Importância do manguezal
Paranaguá abriga uma das maiores faixas contínuas de manguezal do Brasil, reconhecida por sua importância ecológica e como berçário natural de espécies marinhas. Esses ecossistemas são fundamentais para a proteção da costa, a regulação do clima e a manutenção da vida marinha. Sua destruição, além de crime ambiental, compromete a sustentabilidade e o futuro da região.
A próxima etapa da operação deve marcar o início da reabilitação efetiva das áreas afetadas, com foco na restauração ambiental e prevenção de novas ocupações. A meta é clara: recuperar o que ainda pode ser salvo.










