Por Luiza Rampelotti
Mesmo sendo sede do maior porto graneleiro da América Latina e do segundo maior do Brasil em termos de movimentação de cargas, Paranaguá aparece na última posição entre os municípios do Litoral do Paraná no Índice de Progresso Social (IPS) 2025. Com média geral de 55,70 pontos, o município ficou abaixo da média nacional, de 58,70, e da estadual, de 60,83. Os dados foram divulgados pela plataforma IPS Brasil no final de maio e revelam um cenário preocupante: apesar de sua relevância econômica e administrativa, Paranaguá não consegue garantir à população acesso pleno a direitos básicos, bem-estar e oportunidades.
O IPS é composto por três grandes dimensões – Necessidades Humanas Básicas, Fundamentos do Bem-Estar e Oportunidades – e 12 componentes, todos calculados a partir de fontes públicas como IBGE, DataSUS e ministérios da Educação e Saúde. Em cada uma dessas áreas, Paranaguá apresenta uma combinação de contrastes: índices elevados em saúde e nutrição, mas notas críticas em segurança, moradia e inclusão social.
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Segurança e moradia são os principais gargalos nas necessidades básicas
A dimensão de Necessidades Humanas Básicas reúne quatro componentes: nutrição e cuidados médicos básicos, água e saneamento, moradia e segurança pessoal. Paranaguá teve nota geral de 64,56, a pior entre os municípios do Litoral.
O melhor desempenho está em nutrição e cuidados médicos básicos, com 91,87 pontos, impulsionado por baixas taxas de mortalidade infantil e boa cobertura do pré-natal. O acesso à água potável também foi bem avaliado, com 96,38 pontos, e o município atingiu 87,65 em taxa de crianças menores de cinco anos com peso adequado para a idade.
No entanto, o índice de segurança pessoal é alarmante: apenas 39,47 pontos. Os dados indicam altos índices de homicídios, mortes por acidentes de trânsito e violência contra mulheres, refletindo uma realidade urbana marcada pela insegurança cotidiana. A nota em moradia também é crítica: 60,49 pontos, com déficits em qualidade habitacional e acesso a infraestrutura urbana, como coleta de lixo e abastecimento regular de energia.
Educação básica e expectativa de vida são pontos positivos; meio ambiente preocupa
Na dimensão Fundamentos do Bem-Estar, Paranaguá alcançou 62,88 pontos. Aqui, o melhor resultado aparece em acesso ao conhecimento básico, com 72,76, sustentado por taxas elevadas de matrícula no ensino fundamental e boa cobertura do ensino público. A expectativa de vida saudável também foi relativamente alta: 67,45 pontos, indicando melhora nos indicadores de mortalidade e doenças crônicas.
Por outro lado, sustentabilidade ambiental foi um dos piores indicadores do município, com 48,29 pontos. Paranaguá apresenta altos níveis de emissão de poluentes e problemas ligados ao uso do solo urbano. A pressão ambiental causada pelas atividades portuárias, aliada ao crescimento desordenado de áreas urbanas e periféricas, tem gerado impacto negativo na qualidade do ar, no tratamento de resíduos e na conservação de áreas naturais.

Exclusão estrutural persiste: oportunidades seguem restritas
A dimensão de Oportunidades – que mede o quanto os indivíduos conseguem atingir seu pleno potencial – apresentou em Paranaguá a média de 39,65 pontos, repetindo o padrão negativo observado em todo o Litoral.
O pior desempenho da cidade está no componente de liberdade individual e de escolha, com 29,22 pontos. Essa nota reflete baixa mobilidade social, presença de discriminações estruturais e falta de condições para que a população influencie decisões políticas ou faça escolhas autônomas em sua trajetória de vida. O indicador de acesso à educação superior foi igualmente baixo: 31,58 pontos, o que mostra a dificuldade enfrentada por jovens da cidade para ingressar em universidades, especialmente os que vivem em regiões periféricas ou insulares.
O componente equidade e inclusão teve 45,19 pontos, revelando desigualdade persistente entre diferentes grupos sociais, como mulheres, negros e indígenas. Já os direitos individuais atingiram 53,60 pontos, sustentados pelo funcionamento formal de instituições públicas, mas sem indicadores que expressem participação política ou fortalecimento comunitário.
Uma cidade estratégica, mas ainda desigual
O contraste entre o peso econômico de Paranaguá e seus indicadores sociais é marcante. O porto da cidade lidera, em todo o país, a movimentação de óleo vegetal e frango congelado, além de ser o principal corredor de entrada de fertilizantes do Brasil. O município também concentra estruturas administrativas estaduais e federais, exercendo um papel estratégico na gestão regional do Litoral. Ainda assim, os dados do IPS 2025 revelam uma realidade desigual: grande parte da população vive sem acesso pleno à segurança, moradia digna, infraestrutura urbana, educação superior e oportunidades reais de ascensão social.
Bairros afastados do centro, comunidades tradicionais, áreas de ocupação irregular e regiões rurais e insulares enfrentam os maiores impactos dessas desigualdades. A ausência de investimentos contínuos em urbanização, transporte público, políticas de juventude e programas de inclusão reflete diretamente nos resultados da cidade.








