Por Luiza Rampelotti
Os acidentes com animais peçonhentos terrestres — como cobras, escorpiões e aranhas — vêm crescendo de forma preocupante no Litoral do Paraná. Entre 2023 e 2025, a região registrou 1.191 notificações, segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde (SESA) apurados pela Ilha do Mel FM. A maior parte dos casos está relacionada a picadas de aranhas, que representaram 36,7% do total. Especialistas apontam que as mudanças climáticas, o aumento da temperatura média, e o crescimento urbano e turístico em áreas naturais contribuem diretamente para a presença mais frequente desses animais em espaços ocupados pela população.
“O litoral paranaense reúne condições geográficas propícias para a presença desses animais, especialmente em municípios com grande cobertura vegetal e áreas de preservação, como Paranaguá, Guaraqueçaba e Matinhos. Com o aumento das temperaturas e o avanço urbano desordenado, os registros se intensificam”, explica o biólogo Caio Fernandes, que atua há 16 anos no Litoral do Paraná com consultoria ambiental, capacitação de equipes e educação para a convivência segura com a fauna silvestre.
É nesse contexto que ele lança o livro “Animais Peçonhentos – da preservação à prevenção: como evitar acidentes e salvar vidas!”, obra que transforma conhecimento acadêmico em conteúdo acessível para agricultores, profissionais da saúde e moradores de áreas urbanas e rurais.
Escorpiões: registros recentes
Apesar de ainda não figurarem entre os acidentes mais comuns, os escorpiões passaram a ser registrados no litoral paranaense a partir de 2024. Foram dois casos no ano passado e dois em 2025, segundo a SESA. Em 2023, nenhuma ocorrência foi registrada.
“Embora os números ainda sejam baixos, o aparecimento de escorpiões em municípios onde antes não havia notificações deve ser entendido como um alerta. Isso está diretamente ligado à degradação urbana, acúmulo de lixo e descarte irregular de resíduos em áreas residenciais”, explica Caio. Ele destaca que no Brasil, em geral, os escorpiões já são responsáveis por sete em cada dez acidentes com animais peçonhentos.
“Quando entendemos o comportamento desses animais, reduzimos drasticamente os riscos de envenenamentos. A ideia do livro é exatamente essa: traduzir conhecimento científico em práticas simples de prevenção, sem alimentar o medo ou incentivar a matança indiscriminada”, complementa.
Um guia completo: do reconhecimento ao socorro
Organizado em 23 capítulos, o livro traz um guia ilustrado para identificar as principais espécies de importância médica, além de instruções de prevenção aplicáveis a residências, áreas rurais e canteiros de obras. Há também orientações passo a passo sobre os primeiros socorros, baseadas nos protocolos do Ministério da Saúde.

“Infelizmente, ainda há muitas crenças populares que colocam vidas em risco, como o uso de garrotes, cortes no local da picada ou aplicação de álcool. Tudo isso está ultrapassado e pode agravar o quadro clínico da vítima. O livro derruba esses mitos e orienta com base nos protocolos atualizados do Ministério da Saúde”, ressalta.
A obra também explica como funciona a rede pública de atendimento em casos de acidentes, incluindo a distribuição de soros antiveneno e a importância da busca rápida por atendimento médico.
Panorama regional: veja os dados da SESA
Segundo a Secretaria de Estado da Saúde, a 1ª Regional de Saúde do Paraná (que engloba os sete municípios do Litoral) contabilizou 1.191 acidentes com animais peçonhentos entre 2023 e 2025. Veja os destaques:
- Aranhas lideram os registros: 437 casos (36,7%)
- Em seguida aparecem os acidentes com abelhas (188 casos / 15,7%) e serpentes (148 casos / 12,4%)
- Matinhos lidera em volume de notificações com 256 casos, seguido por Paranaguá (227) e Pontal do Paraná (127)
- O número de acidentes aumentou 17% entre 2023 e 2024 (de 475 para 556 ocorrências)
- Em 2025, até o momento, foram 160 casos registrados.
Lançamento em Paranaguá
A sessão de lançamento oficial do livro acontece neste sábado, 31 de maio, às 15h, no Aquário Marinho de Paranaguá, localizado na Rua João Régis, no Centro Histórico da cidade. Na ocasião, além da sessão de autógrafos, Caio Fernandes fará uma palestra gratuita e aberta ao público sobre prevenção de acidentes com animais peçonhentos e primeiros socorros.
A obra estará disponível para compra no local e poderá ser autografada pelo autor.










