Roseli Baldi de Oliveira, de 65 anos, paciente com câncer no pulmão em estágio avançado, aguardou por seis dias uma ambulância para ser transferida do Pronto-Socorro Municipal de Guaratuba ao Hospital Regional do Litoral, em Paranaguá. A transferência, classificada como urgente pela família, só foi realizada na manhã desta segunda-feira (16), por volta das 10h, após a mobilização da imprensa local.
A situação, definida pela família como um caso grave de negligência institucional, se arrastava desde terça-feira (10), quando dona Roseli deu entrada no Pronto-Socorro após sofrer convulsões e perder a consciência. “Ela ficou praticamente em coma. Demorou quatro dias para voltar a falar e comer, e mesmo assim, sempre divagando, sem reconhecer as pessoas ao redor. Ficou numa cama comum, sem estrutura, onde todos que chegavam eram atendidos com prioridade na frente dela. Ela ficou esquecida. A equipe chegou a tirá-la da emergência e colocá-la num quarto. O médico sequer passou para vê-la ou fazer exames de sangue por dois dias”, relatou Célia Lopes de Oliveira, nora da paciente.
Antes disso, no domingo (8), Roseli já havia procurado atendimento na mesma unidade por mal-estar. Segundo a família, ela recebeu apenas soro e foi liberada, mesmo com sintomas neurológicos como zumbido intenso na cabeça e formigamento nas extremidades. “Dois dias depois, sofreu uma forte convulsão em casa e a ambulância demorou mais de 30 minutos para chegar, após três chamadas de socorro”, contou Célia à Ilha do Mel FM.
Durante a internação, o quadro de Roseli oscilou. Em determinado momento, ela apresentou sinais de melhora, voltou a se alimentar e falar. No entanto, no domingo (15), voltou a convulsionar, agravando sua situação clínica. “Ela estava começando a comer de novo, a entender um pouco, mas regrediu completamente. Hoje, ela não reconhece mais ninguém, está em estado crítico”, desabafou a nora.

Vaga só saiu após mobilização da imprensa
Diante da piora no quadro clínico e da falta de respostas, a família recorreu à imprensa da cidade como último recurso, no domingo (15). “Foi graças ao apoio da Rádio Litorânea que conseguimos a vaga no Hospital Regional. O quadro dela é gravíssimo. Ela está caída numa maca, sem neurologista, sem oncologista, sem qualquer estrutura para tratar um câncer avançado”, denunciou Célia.
A família relata que buscou, desde os primeiros dias, uma vaga em unidade de terapia intensiva (UTI) em hospitais de referência como o Angelina Caron, onde Roseli faz tratamento oncológico, e o Hospital do Exército. Apesar da vaga ter sido liberada apenas na manhã desta segunda-feira (16) em Paranaguá, a ambulância não estava disponível para a transferência imediata.
Roseli, que iniciou o acompanhamento oncológico em fevereiro deste ano, recebeu a última sessão de quimioterapia no dia 29 de maio. Desde então, apresentou piora progressiva, com sintomas neurológicos como zumbido na cabeça e formigamento nas extremidades. Segundo a família, desde o dia 8 de junho ela já demonstrava sinais de agravamento do quadro, mas foi apenas medicada com soro e liberada para casa.
A Ilha do Mel FM apurou que a transferência só foi concretizada após uma entrevista ao vivo concedida por Célia à imprensa local na manhã desta segunda (16). Pouco depois, a ambulância chegou ao hospital e realizou o transporte de Roseli, que agora está sob cuidados no Hospital Regional do Litoral.
Reincidência de negligência
O caso da dona Roseli não é o primeiro vivido pela família. Em dezembro de 2024, a mãe de Célia, diagnosticada com câncer de mama em estágio avançado e com demência, também teve o transporte negado pela Prefeitura. Sem ambulância disponível, foi levada em um carro particular até Curitiba, completamente imóvel. Faleceu semanas depois. “Estamos vivendo tudo de novo. Só que agora com a minha sogra. A sensação é de impotência total. A gente pede por dignidade, por humanidade”, diz.
À Ilha do Mel FM, a Secretaria de Saúde de Guaratuba informou que “a paciente oncológica estava aguardando vaga na Central de Regulação de Leitos. A vaga foi disponibilizada na manhã desta segunda-feira (16) e, no horário do almoço, a paciente foi transferida, por meio da ambulância do SAMU, especializada nesse tipo de transporte, para o Hospital Regional do Litoral, em Paranaguá“.
O Consórcio Intermunicipal de Saúde do Litoral do Paraná (CISLIPA) também foi procurado para se manifestar sobre a demora no transporte especializado. Até a publicação desta reportagem, não houve retorno. O espaço permanece aberto para esclarecimentos e será atualizado assim que houver resposta.
*Com informações da Litorânea FM









