Luiza Rampelotti
O Hospital Nossa Senhora dos Navegantes, em Matinhos, retomou seus atendimentos ao público, mesmo sob a advertência de um Ato Indicativo de Interdição Ética emitido pelo Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR). A medida reflete uma série de irregularidades apontadas pelo órgão regulador e o Ministério Público, gerando preocupação sobre a continuidade dos serviços médicos no município.
Em nota oficial, o diretor técnico da unidade, Danilo de Ávila Ladeia, garantiu que o hospital segue aberto, mas enfrenta limitações graves que precisam de solução urgente.
Irregularidades e fiscalizações
Desde março de 2024, o hospital tem sido alvo de fiscalizações detalhadas conduzidas pelo CRM-PR e pelo Ministério Público. Os relatórios resultantes dessas inspeções apontaram diversas falhas estruturais, administrativas e operacionais que comprometem a segurança dos pacientes e profissionais.
Ladeia afirmou que os problemas foram reiteradamente comunicados à Prefeitura de Matinhos e à Secretaria Municipal de Saúde, mas até o momento as providências necessárias não foram adotadas. “Entre as questões citadas estão a falta de recursos humanos, o atraso no pagamento de salários, e a ausência de registro adequado do Pronto Atendimento no CRM-PR”, explicou o diretor.
Na última segunda-feira (16), o CRM-PR deliberou pela emissão de um Ato Indicativo de Interdição Ética. Essa medida estabelece um prazo para que as autoridades municipais resolvam as pendências. Caso isso não ocorra, o órgão pode impor uma interdição total dos serviços médicos no hospital, afetando todos os setores da unidade. “A situação é grave e exige soluções rápidas por parte da administração pública”, enfatizou Ladeia.
Crise no Pronto Atendimento
Na noite de 10 de dezembro, o Pronto Atendimento do hospital foi abruptamente fechado, gerando confusão e indignação entre os munícipes. Vídeos compartilhados nas redes sociais mostraram pacientes e funcionários buscando explicações sobre a suspensão dos atendimentos. Segundo relatos, a paralisação foi motivada pela falta de pagamento aos profissionais e pela ausência de uma gestora contratada para administrar o local.
Em entrevista à Ilha do Mel FM, a secretária municipal de Saúde, Darlene Aparecida de Freitas, confirmou a interrupção dos atendimentos e afirmou que a decisão partiu do diretor técnico, que proibiu a entrada de médicos plantonistas no local. “Apenas os atendimentos na maternidade foram mantidos. Estamos aguardando o parecer do Departamento Jurídico da Prefeitura para tomar as medidas necessárias”, disse a secretária. Ela lamentou o ocorrido e criticou a falta de colaboração entre as partes envolvidas. “Estamos no fim de mandato e enfrentando pressões políticas. Quem perde com tudo isso é a população”, desabafou.
Danilo Ladeia, também em entrevista à Ilha do Mel FM, afirmou que solicitou sua exoneração da direção técnica no dia 11 de dezembro, devido à discordância com as condições de funcionamento do Pronto Atendimento. Ele explicou que a unidade não possuía registro ativo no CRM-PR, nem profissionais suficientes para operar. “Não autorizei a reabertura do Pronto Atendimento porque ele não atendia às exigências legais e regulamentares. Essa situação foi comunicada repetidamente à Prefeitura e ao CRM desde o ano passado”, destacou Ladeia, que, seguindo orientação do CRM-PR, teve que retomar temporariamente a função de diretor técnico até que um novo profissional seja designado para o cargo.
A Secretaria Municipal de Saúde de Matinhos divulgou uma nota oficial após a repercussão do caso. No comunicado, o órgão afirmou que a suspensão dos atendimentos ocorreu devido à falta de registro do Pronto Atendimento no CRM-PR, situação atribuída ao diretor técnico. A nota também informou que foi aberta uma sindicância para apurar responsabilidades e buscar soluções.
“É fim de mandato, a oposição em cima querendo que tudo dê errado, não é fácil. Quem perde é a população”, concluiu a secretária.
Hospital em funcionamento sob restrições
Atualmente, o Hospital Nossa Senhora dos Navegantes segue em funcionamento, mas opera sob a advertência do ato indicativo de interdição ética. Avisos foram afixados em áreas-chave, como a entrada principal e o centro cirúrgico, alertando para as pendências que ameaçam a continuidade dos serviços.
“Se as irregularidades não forem resolvidas rapidamente, a interdição poderá ser total, comprometendo todos os setores da unidade. A responsabilidade por evitar esse cenário está nas mãos da administração municipal”, reforçou Danilo Ladeia.