Após dois dias de júri popular, o julgamento de Givanildo Rodrigues Maria, de 35 anos, foi concluído nesta quinta-feira (10) no Fórum de Antonina, com a condenação do réu a 51 anos de prisão por estupro de vulnerável, homicídio qualificado e ocultação de cadáver da enteada Kameron Odila Gouvêa Osolinski, de 11 anos. O crime ocorreu em abril de 2023, na comunidade rural de Ipanema, em Guaraqueçaba, e gerou comoção em toda a região.
Réu confesso, Givanildo, que já estava preso, cumprirá a pena em regime fechado. A sentença, que reconheceu todas as qualificadoras apontadas pelo Ministério Público do Paraná (MPPR), foi considerada justa e necessária por familiares da vítima e pela acusação.
Crime que parou Guaraqueçaba
Kameron havia acabado de chegar da escola quando informou à mãe, Mayrah Merilin Dorigon Gouvêa, que iria à casa de uma amiga fazer um trabalho. A menina nunca mais voltou. Na manhã seguinte, seu corpo foi encontrado em uma área de mata, com sinais de violência sexual e marcas de estrangulamento. O padrasto, que inicialmente negou envolvimento, acabou confessando o crime durante depoimento prestado na Delegacia Cidadã de Paranaguá.
Além de estuprar e matar a enteada, Givanildo tentou ocultar o corpo em uma área isolada da mata.
Voz da dor e da justiça
A sentença trouxe algum alívio à família da vítima, embora a dor permaneça latente. A avó de Kameron, Alair Gouvêa, se emocionou ao falar com a imprensa no fim do julgamento. “Não vou dizer que agora eu vou conseguir dormir ou descansar, porque a dor vai continuar comigo. Mas mostramos pra ele que justiça existe. Ele achou que poderia fazer o que fez e sair impune. Mas não saiu”, disse.
Já a mãe, Mayrah, falou pela primeira vez publicamente desde a morte da filha. Visivelmente abalada, ela respondeu críticas que recebeu ao longo dos últimos anos. “Todo mundo só sabe me julgar e me criticar, mas ninguém estava comigo. Eu tinha que trabalhar, sustentar minha família. Ela era minha vida, minha alegria, minha companheira. É muito difícil viver sem ela”.
A atuação da acusação
A advogada Nadinne Van der Broocke, assistente de acusação, também se pronunciou após o julgamento. “Foram dois dias intensos, com muitas provas apresentadas e grande envolvimento emocional. Conseguimos demonstrar a materialidade e a autoria desses crimes bárbaros. A condenação reconhece o que houve e serve como resposta à sociedade de que a justiça foi feita”, afirmou.
Nadinne ressaltou ainda que o júri, embora realizado em segredo de justiça, foi marcado por comoção geral. “Foi um julgamento difícil. Jurados choraram, muitos se envolveram com o caso. A promotoria foi brilhante e houve respeito absoluto aos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa”.
Defesa fala em avaliar próximos passos
O advogado de Givanildo, Cristiano Dias Souza, também se manifestou. “Todos esperavam uma resposta e ela veio por meio da decisão do Conselho de Sentença. Agora vamos analisar o resultado e decidir os próximos passos, inclusive a possibilidade de recursos.”
Givanildo já possuía antecedentes: havia respondido por homicídio ainda na adolescência e por casos de violência doméstica contra ex-companheiras. Após a confissão do crime, o Ministério Público pediu sua prisão preventiva e formalizou a denúncia com cinco qualificadoras para o homicídio: feminicídio, meio cruel, impossibilidade de defesa da vítima, crime contra menor de 14 anos e motivo torpe – já que o assassinato teve como objetivo ocultar o estupro da criança.
Um luto sem fim
Mais do que uma condenação, o julgamento foi um momento de afirmação para uma família destruída. A avó de Kameron resumiu o sentimento de todos. “Quando ele matou ela, ele matou a gente junto. Nem sei se vamos conseguir viver daqui pra frente. Mas, pelo menos, hoje se provou que a justiça existe”.