O relatório anual divulgado pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT) revelou a preocupante situação enfrentada pelos profissionais de comunicação no Brasil. Em 2022, foram registrados dois casos de assassinato de jornalistas durante o exercício de suas funções, além de 137 casos de violência não letal que envolveram pelo menos 212 profissionais e veículos de comunicação. Isso significa que, em média, a imprensa brasileira foi alvo de algum tipo de ataque a cada dois dias.
O relatório, apresentado em Brasília nesta quarta-feira (10/05), contou com a presença de representantes da AERP e trouxe algumas informações preocupantes. Em comparação com o ano anterior, houve uma redução de 5,52% no número de casos não letais e de 7,83% no número de vítimas. No entanto, as agressões físicas ocuparam o topo da lista de violações ao trabalho jornalístico em 2022, com 47 casos registrados, um aumento significativo de 38,24% em relação a 2021. O número de vítimas também aumentou, passando de 61 para 74, o que representa um crescimento de 21,31%.
O relatório ressalta que as agressões ocorreram com maior incidência em períodos específicos e com viés político. Muitos dos ataques aconteceram nos dias seguintes ao segundo turno das eleições presidenciais, durante a cobertura de protestos contra o resultado do pleito, e durante a desmobilização de acampamentos em frente aos quartéis do Exército.
Além disso, o relatório identificou o retorno de casos de importunação sexual, que haviam sido anteriormente negligenciados. Também houve aumentos de 100% nos casos de censura e de 25% nos ataques e vandalismos contra profissionais de comunicação.
Esses dados reforçam a posição do Brasil como um dos países perigosos para o exercício do jornalismo. Segundo a organização internacional Repórteres sem Fronteiras (RSF), de 2003 a 2022, 42 jornalistas perderam suas vidas no país. Na maioria dos casos, os assassinatos estavam diretamente relacionados a denúncias e investigações de crimes organizados e corrupção. O Brasil também está entre os 15 países da América Latina que mais registraram assassinatos de jornalistas nas últimas duas décadas.
O Observatório de Jornalistas Assassinados da UNESCO revela que, em 2022, 87 profissionais de mídia foram mortos em todo o mundo, o equivalente a um a cada quatro dias.
O relatório da ABERT teve a parceria da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e o apoio da Associação Nacional de Editores de Revistas (ANER), da Associação Nacional de Jornais (ANJ) e do Instituto Palavra Aberta. Essas entidades buscam promover a liberdade de expressão e a segurança dos profissionais da imprensa no Brasil.