O Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná, Simepar, concluiu nesta semana o laudo técnico que detalha a trajetória e a classificação dos três tornados que atingiram o Paraná em 7 de novembro. O documento, com mais de 130 páginas, elevou para F4 a categoria dos tornados registrados em Rio Bonito do Iguaçu e Guarapuava e manteve em F2 o tornado de Turvo. No total, 11 municípios foram atingidos: Rio Bonito do Iguaçu, Turvo, Guarapuava, Quedas do Iguaçu, Espigão Alto do Iguaçu, Nova Laranjeiras, Porto Barreiro, Laranjeiras do Sul, Virmond, Cantagalo e Candói. A análise reforça que o episódio pode ser considerado um dos maiores da categoria no Paraná em três décadas.
ANÁLISE
O laudo descreve o trabalho integrado entre meteorologia operacional, geointeligência, sensoriamento remoto e análise geoespacial. O esforço reuniu todos os setores do Simepar, com apoio do Corpo de Bombeiros, Instituto Água e Terra e Defesa Civil. O objetivo foi compreender o fenômeno e oferecer subsídios para gestão de risco e planejamento territorial.
As conclusões apontam que o ramo frio de um ciclone extratropical, formado sobre o Sul do Brasil, criou condições para tempestades de forte intensidade no Paraná em 7 de novembro. Algumas nuvens evoluíram para supercélulas, em ambiente de elevada instabilidade, cisalhamento intenso do vento e transporte de ar quente e úmido — fatores decisivos para o desenvolvimento dos tornados.
Duas dessas supercélulas geraram os três tornados nas regiões Sudoeste e Centro-Sul. As classificações seguiram a Escala Fujita, baseada nos danos observados e na velocidade estimada dos ventos.
“É por isso que o Simepar existe, para podermos trabalhar na mitigação e também na resiliência futura que será produzida a partir da experiência deste triste episódio”, afirmou o secretário estadual do Desenvolvimento Sustentável, Rafael Greca.
REGISTROS
As evidências dos danos foram coletadas em sobrevoos realizados pelo meteorologista Reinaldo Kneib entre Espigão Alto do Iguaçu, Rio Bonito do Iguaçu, Virmond e no distrito de Entre Rios, em Guarapuava. Ele também registrou imagens na área urbana de Rio Bonito do Iguaçu e analisou materiais enviados por equipes de resgate e pela população.
CLASSIFICAÇÃO
A primeira supercélula gerou dois tornados:
- Tornado 1: passou por Quedas do Iguaçu, Espigão Alto do Iguaçu e Nova Laranjeiras como F1; atingiu Rio Bonito do Iguaçu como F4; seguiu para Porto Barreiro e Laranjeiras do Sul como F3; cruzou Virmond como F2 e encerrou trajetória em Cantagalo como F1.
- Tornado 2: percorreu Candói como F2 e chegou ao distrito de Entre Rios, em Guarapuava, como F4. A supercélula avançou cerca de 270 km com velocidade média de 80 km/h.
A segunda supercélula percorreu 230 km, a 85 km/h, e gerou o Tornado 3, que atingiu Turvo em categoria F2.
O Simepar também reforçou as velocidades típicas da Escala Fujita: F1 (116 a 180 km/h), F2 (180 a 253 km/h), F3 (253 a 332 km/h), F4 (332 a 418 km/h). A escala varia de F0 a F5, sendo o F5 o mais extremo, com ventos entre 418 e 511 km/h.
TRAJETÓRIAS
Tornado 1 percorreu 75 km, com área de impacto de 12.426 hectares. A largura variou de 750 metros em Quedas do Iguaçu a 3.250 metros na área de maior intensidade, em Rio Bonito do Iguaçu.
A intensidade F4 se confirmou na área urbana do município, com destruição massiva de edificações, arremesso de veículos, tombamento de caminhão e danos compatíveis com ventos superiores a 300 km/h.
Tornado 2, em Guarapuava, apresentou destruição extensa na vegetação, colapso total de casas de alvenaria e arremesso de container por cerca de 150 metros. Percorreu 44 km, com área de impacto de 2.301 hectares.
Tornado 3, em Turvo, teve percurso de 12 km, área de 570 hectares e largura média de 525 metros.
ATUAÇÃO
O Simepar iniciou a emissão de boletins no dia 4, quando a previsão indicou potencial de tempestades severas. Em parceria com a Defesa Civil, intensificou o monitoramento das áreas de risco. No dia 7, todos os meteorologistas de Curitiba atuaram em operação especial acompanhando a evolução atmosférica.
Quando o fenômeno foi constatado em Rio Bonito do Iguaçu, às 18h10, começaram as análises preliminares, que incluíram dados de radar e identificação de hook echo, sinal característico de possível tornado.
Na manhã seguinte, Reinaldo Kneib foi ao local com apoio do Corpo de Bombeiros, fez entrevistas e sobrevoos, analisou distâncias de arremesso de objetos e conversou com equipes de resgate e moradores.
Inicialmente, os tornados foram classificados como F3 em Rio Bonito do Iguaçu, F2 em Guarapuava e F2 em Turvo. As análises seguintes, com interpretação multiespectral e cruzamento de dados geoespaciais, permitiram revisar as classificações para F4 em Rio Bonito do Iguaçu e Guarapuava.
“A abordagem integrada fortalece as capacidades de resposta e mitigação frente a eventos climáticos extremos, e é um passo importante para a construção de um sistema de gestão de risco mais eficiente e resiliente no Paraná”, afirmou Paulo de Tarso, diretor-presidente do Simepar.
Com informações da AEN











