O Teatro Municipal Rachel Costa, um dos espaços culturais mais importantes do Litoral, está interditado pela Secretaria de Cultura e Turismo (Secultur) de Paranaguá. A decisão foi anunciada na terça-feira (14), com exclusividade à Ilha do Mel FM e, de acordo com o secretário da pasta, Ivan Lapolli Filho, ocorre em meio a um cenário de abandono que há anos compromete a estrutura do local, que culminou no desabamento de parte do teto em outubro passado. A medida visa proteger a segurança do público e dos trabalhadores do teatro.
Cenário de abandono
De acordo com Ivan, desde 2017, o teatro vem apresentando problemas de infiltração graves, agravados pela falta de manutenção ao longo dos anos. Infestações de pombos, infiltrações crônicas e riscos elétricos compõem um quadro que o secretário de Cultura e Turismo descreveu como “um estado absurdo de deterioração“. Durante vistoria realizada pela Secultur no início da nova gestão, foram identificados danos que exigem reparos emergenciais.
“O teto desabou devido a infiltrações que ocorrem há pelo menos cinco anos. Além disso, há problemas de segurança elétrica que representam risco de incêndio, como fios expostos e falta de aterramento. A iluminação e o sistema de som estão comprometidos, e a passarela técnica apresenta falhas graves“, explicou Luiz Fernando da Silva, gestor cultural em artes cênicas da Prefeitura de Paranaguá.
Decisão e próximos passos
A interdição do teatro foi conduzida pela própria equipe da Secretaria, que avaliou que a estrutura está insalubre e insegura para qualquer tipo de uso. “Retiramos os funcionários e fechamos o espaço. Não é uma decisão fácil, mas necessária. Agora, estamos elaborando um plano de recuperação“, afirmou Ivan Lapolli Filho.
O plano, segundo o secretário, prevê um projeto de revitalização que deve ser iniciado em 2025, com o objetivo de devolver o teatro à comunidade. No entanto, os desafios financeiros são uma barreira significativa. “A revitalização completa demandará um planejamento orçamentário robusto, e já estamos buscando soluções para viabilizar isso“, acrescentou.
A interdição do teatro reflete uma perda cultural significativa para Paranaguá, já que o espaço era o único do município com capacidade para receber grandes espetáculos. “Sem o teatro, perdemos a possibilidade de trazer shows, peças e eventos culturais de grande porte. Isso afeta diretamente a vida cultural da cidade e de toda a região do litoral“, destacou Ivan Lapolli Filho.
Já o servidor Luiz Fernando ainda lembrou que o descaso com a manutenção comprometeu equipamentos essenciais ao funcionamento do teatro. “A sala técnica, onde ficavam as mesas de som e luz, já não é utilizável há anos por conta das infiltrações. Equipamentos caros foram danificados, e a estrutura está completamente comprometida“.
Histórico de negligência
Os problemas no Teatro Municipal Rachel Costa não são recentes. Desde 2017, relatórios técnicos apontavam a necessidade de manutenção básica, mas, segundo Luiz Fernando, as intervenções realizadas foram insuficientes e emergenciais. “A situação foi se agravando ao longo dos anos. Pequenos reparos não solucionaram os problemas estruturais. Hoje, estamos lidando com um cenário que poderia ter sido evitado com um planejamento adequado“, lamentou.
Enquanto a revitalização não ocorre, a Secretaria de Cultura e Turismo busca alternativas para minimizar os impactos, mas reconhece que nada pode substituir o Teatro Rachel Costa. “O ideal seria termos outros espaços culturais para suprir a demanda, mas isso não existe hoje. Estamos trabalhando para mudar esse cenário“, garantiu Ivan Lapolli Filho.
O que diz a gestão anterior
Até 31 de dezembro, a Secretaria de Cultura e Turismo de Paranaguá esteve sob o comando de Maria Plahtyn, que também concedeu entrevista à Ilha do Mel FM para esclarecer os problemas apontados em relação ao Teatro Rachel Costa. Segundo Plahtyn, as informações apresentadas por Ivan Lapolli Filho não refletem a realidade dos fatos.
“É fundamental esclarecer que, ao longo dos últimos anos, diversas manutenções foram realizadas no espaço, com foco em solucionar problemas crônicos que acompanham o teatro desde a sua construção”, afirmou.
Ela destacou que, em julho de 2024, uma tempestade de grande intensidade evidenciou novas demandas estruturais no teatro, como infiltrações localizadas entre o prédio novo e a construção histórica. Essas infiltrações geraram uma bolsa de água que, em outubro, provocou o desabamento parcial de uma pequena área do forro de drywall. “Felizmente, esse incidente não comprometeu a estrutura do teatro”, assegurou Plahtyn.
Diante da situação, a então secretária determinou a implementação de medidas emergenciais. “Adotei ações imediatas, como a instalação de uma cobertura provisória para evitar o agravamento da degradação e iniciei os estudos técnicos para a reforma completa do telhado”, explicou. Segundo ela, ao final de sua gestão, foram deixados todos os preparativos necessários para a reforma integral do teatro, incluindo planilhas detalhadas, estudos técnicos desenvolvidos pela equipe de arquitetura da Secultur em parceria com a empresa de manutenção, além de um contrato com orçamento já empenhado no valor de R$ 220 mil. “Tudo estava pronto para o início imediato das obras“, ressaltou.
Plahtyn reafirmou seu compromisso com a preservação do Teatro Rachel Costa. “Sempre considerei o teatro uma prioridade, reconhecendo sua importância cultural e social para nossa comunidade. Ainda que eu não esteja mais à frente da Secretaria de Cultura e Turismo, continuo à disposição para prestar quaisquer esclarecimentos necessários, reafirmando a transparência e seriedade do trabalho realizado”, concluiu.
Por Luiza Rampelotti
