Por Luiza Rampelotti
Os trapiches de Nova Brasília e Encantadas, na Ilha do Mel, inaugurados em 2021, enfrentam problemas estruturais que colocam em risco moradores e turistas que utilizam diariamente os pontos de embarque e desembarque. Flutuantes quebrados, grades danificadas e a ausência de proteções entre as plataformas são algumas das falhas que permanecem sem solução há meses.
No último domingo (9), moradores da ilha, segundo destino turístico mais visitado do Paraná, procuraram a Ilha do Mel FM para denunciar a situação. Segundo eles, o trapiche de Nova Brasília é o mais crítico, com registros de quedas de visitantes. Em Encantadas, embora o problema tenha surgido mais recentemente, segue o mesmo caminho de deterioração.

Obra milionária e falhas desde a entrega
A construção dos trapiches foi uma das exigências do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para a emissão da Licença de Instalação (1144/16), vinculada à dragagem de aprofundamento dos portos de Paranaguá e Antonina, realizada em 2017. Como parte das condicionantes ambientais, a então Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Portos do Paraná) definiu, em diálogo com a comunidade, quais trapiches seriam reformados ou construídos.
As obras iniciaram em fevereiro de 2020 e foram entregues no final de 2021, com um investimento de R$ 9,5 milhões da empresa pública Portos do Paraná. A execução ficou a cargo da Construtora AJM Eireli, vencedora da licitação. Segundo o projeto, os trapiches deveriam ser construídos com materiais duráveis e resistentes à maresia e ao alto fluxo de passageiros.
No entanto, moradores denunciam que os problemas começaram já na fase inicial da operação.
“Trapiche malfeito”, dizem moradores
Felipe Andrews, morador da Ilha do Mel, afirma que a estrutura sempre apresentou falhas. “Desde que foi concluído, o trapiche de Encantadas vem dando problema. Ele está torto, as estacas não estão dentro dos esquadros, ou seja, é uma obra mal realizada”, denuncia.
Além das falhas na construção, Andrews destaca que os materiais utilizados não suportam a grande demanda turística da ilha. “Pelo número de turistas que chegam aqui, o material quebra muito fácil, lasca, fica danificado. Não tem estrutura para o volume de embarques e desembarques”, explica.
A comunidade já acionou diversos órgãos responsáveis, incluindo Portos do Paraná, a Prefeitura de Paranaguá e o Governo do Estado. “Mandamos para o Porto, para a Prefeitura e para o Estado. Eles vêm, analisam e vão embora, mas ninguém resolve o problema”, lamenta Andrews.
De quem é a responsabilidade?
A Portos do Paraná afirma que a manutenção dos trapiches não é de sua responsabilidade, pois, após a entrega da obra, a gestão passou a ser da Prefeitura de Paranaguá. “A Portos do Paraná informa que, após a conclusão da obra há três anos, entregou a estrutura dos dois trapiches em perfeitas condições de uso e segurança à Prefeitura de Paranaguá. Desde então, a conservação e a manutenção são de responsabilidade do Município”, declarou à Ilha do Mel FM.
No entanto, devido à situação crítica dos trapiches, o Instituto Água e Terra (IAT) assumiu, de forma emergencial, as obras de manutenção durante a temporada de verão. “O Instituto Água e Terra (IAT) já deu início à reforma dos trapiches da Ilha do Mel, começando pelo equipamento de Nova Brasília. Nos próximos dias, será feita a reestruturação no complexo de Encantadas. O prazo estimado para conclusão é de 30 dias”, informou o órgão.
Ainda segundo o IAT, a medida foi necessária para garantir a segurança de moradores e turistas. “A responsabilidade é da Prefeitura de Paranaguá, mas o IAT assumiu emergencialmente nesta temporada de verão por causa dos problemas que estavam acontecendo. Já começamos a reforma e vamos atuar no trapiche de Encantadas também”, completou.
À Ilha do Mel FM, a Prefeitura informou que, na próxima quarta-feira (12), uma comitiva do Poder Executivo Municipal, chefiada pela secretária de Serviços Urbanos, Chris Rosa, visitará a Ilha do Mel para avaliar as condições dos trapiches e, em conjunto com o Instituto Água e Terra, definir os próximos passos para solucionar os problemas identificados e planejar manutenções preventivas daqui para frente.
Histórico das reformas na Ilha do Mel
Antes da inauguração dos atuais trapiches, em 2021, as estruturas da Ilha do Mel já apresentavam riscos devido à ação do tempo e da maresia. Os trapiches anteriores haviam sido instalados há cerca de 20 anos e registravam frequentes acidentes.
A reforma e ampliação das estruturas, exigida pelo Ibama como contrapartida à dragagem dos portos paranaenses, incluiu (ou deveria incluir) melhorias como: iluminação renovada; rampas acessíveis; lixeiras e coberturas; novo sistema elétrico e de drenagem; dispositivos de segurança e sinalização e bancos de espera e proteção lateral.
Na época da entrega das obras, o diretor-presidente da Portos do Paraná, Luiz Fernando Garcia da Silva, afirmou que a revitalização dos trapiches era uma demanda antiga da população. “É uma contrapartida do Porto pelas obras de infraestrutura marítima, atendendo uma necessidade da comunidade local. Quando pensamos no desenvolvimento do Porto, queremos, junto, desenvolver a comunidade”, declarou.