Por Luiza Rampelotti
No próximo sábado (22), a partir das 16h, Paranaguá recebe a sétima edição do Afoxé Filhos de Iemanjá, um evento que celebra a cultura afro-brasileira, a religiosidade de matriz africana e a história do povo negro na cidade. Organizado pela Associação Cristã de Estudos da Fraternidade Irmanada (ACEFI), o evento promete um encontro de fé, música, dança e resistência.
Lederson Souza, presidente da ACEFI e organizador do evento, destaca que o Afoxé é um espaço de ocupação e reafirmação cultural. “O Afoxé significa o orixá na rua. É o momento em que podemos levar para o espaço público aquilo que acontece dentro dos nossos barracões, dos nossos ilês e casas de oração. É uma oportunidade de mostrar que nossa religiosidade não é nada daquilo que o preconceito tenta impor”, afirma.
A importância do Afoxé na luta contra a intolerância religiosa
O evento também desempenha um papel essencial na luta contra a intolerância religiosa. “A mídia tem sido uma grande aliada na divulgação, porque ainda enfrentamos muitos desafios para trazer o Afoxé ao conhecimento do público. Há muito preconceito contra as religiões de matriz africana, e mostrar nossa cultura e espiritualidade é uma forma de combater isso”, ressalta Souza.
Em Paranaguá, o Afoxé já se consolidou como um evento inter-religioso, cultural e social. “Além de uma celebração, é uma aula de história a céu aberto. Resgatamos a memória do povo negro escravizado e mostramos a importância dessa herança na formação da cidade”, acrescenta.
Programação e trajeto do evento
A concentração acontece às 16h, em frente à Igreja de São Benedito, local historicamente ligado à resistência negra em Paranaguá. A saída está marcada para 17h, percorrendo um trajeto que passa por diversos pontos históricos da cidade.
“Saímos tocando os sinos da igreja, cantando e contando a história da cidade. Falamos sobre os casarões antigos, sobre o que aquelas pessoas escravizadas construíram, sobre o significado do Pelourinho e da própria Igreja Matriz. Cada parada no percurso é uma lição sobre a formação de Paranaguá”, explica o organizador.
Uma das novidades deste ano é a presença de benzedeiras dentro da Igreja de São Benedito, além de apresentações culturais como o grupo Jogo de Corpo, que mistura samba e jongo. O trajeto também contará com o Maracatu O Momi, além do tradicional Boi de Mamão, reforçando a pluralidade cultural do evento.
Encerramento e novidades
Uma das grandes surpresas desta edição será o encerramento, que contará com um show do cantor Igor Benatti, artista do cenário do axé que vem se destacando no Rio de Janeiro e em Curitiba. Além disso, haverá a tradicional entrega do presente para Iemanjá, um ritual carregado de simbolismo e devoção.
“Vamos realizar a entrega do presente para Iemanjá no Rio Itiberê. Aqui, diferente da Bahia, onde se usa jangadas, utilizamos o barco do pesqueiro para levar nossa oferenda. Esse momento é sempre muito especial”, comenta Lederson.
Participação e fortalecimento do evento
A cada edição, o Afoxé atrai mais participantes, incluindo visitantes de Curitiba e pesquisadores acadêmicos. Este ano, estudiosos da Universidade Federal da Espanha e da Universidade Estadual de Londrina (UEL) estarão presentes para registrar o evento em artigos científicos. No ano passado, cerca de 800 pessoas participaram.
Além disso, o Departamento de Turismo Religioso do Paraná também acompanhará a edição deste ano, com o objetivo de incluir o Afoxé no calendário oficial do Estado. “Esse é um sonho nosso. Queremos que o Afoxé Filhos de Iemanjá seja reconhecido oficialmente e integre o circuito do turismo religioso”, destaca Lederson.
Como participar
O evento é aberto a toda a população, independentemente de crença ou religião. A única recomendação para quem quiser participar ativamente é vestir roupas brancas, símbolo da paz e respeito à celebração. Para aqueles que desejam apenas acompanhar, o trajeto oferece uma excelente oportunidade para conhecer mais sobre a cultura e a história local.
“Mesmo que a pessoa não seja adepta das religiões de matriz africana, ela pode participar para aprender, conhecer e desconstruir preconceitos. É um momento de respeito e celebração da diversidade”, finaliza o organizador.