Por Luiza Rampelotti com informações do G1
O bloqueio da Serra da Esperança, entre os quilômetros 302 e 311 da BR-277, escancarou os problemas históricos de logística que afetam diretamente o Paraná e o porto de Paranaguá, segundo maior do Brasil. Durante sete dias de interdição total, de 7 até o último sábado, 14 de dezembro, o transporte de mercadorias com destino ao porto foi drasticamente afetado, gerando um prejuízo médio de R$ 1 milhão por dia, de acordo com estimativas da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep) e da Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Paraná (Fetranspar).
Impacto para o porto de Paranaguá
Com mais de dois mil caminhões transitando diariamente pela BR-277, de acordo com estimativas da Fiep, a rodovia é essencial para o escoamento de cargas do interior do estado e do Mato Grosso do Sul até o porto de Paranaguá. Nelson Costa, superintendente da Federação e Organização das Cooperativas do Paraná (Fecoopar), destacou o impacto imediato do bloqueio na operação do porto.
“O maior impacto do bloqueio da Serra da Esperança é justamente na questão do transporte de mercadorias com destino ao porto e com destino aos mercados de Curitiba e São Paulo, que têm o trânsito pela BR-277. […] Nós estamos já com reflexos no porto de Paranaguá, porque as mercadorias não chegam – e há caminhões carregados com mercadorias perecíveis, como carga de frango, que não têm outra alternativa a não ser esperar”, disse.
O porto de Paranaguá é o maior exportador de frango e importador de fertilizantes do Brasil, além de ser o segundo na exportação de soja e açúcar. O bloqueio gerou filas de caminhões e atrasos na logística de mercadorias essenciais, prejudicando o setor produtivo e ameaçando contratos de exportação.
Logística paranaense e a dependência do modal rodoviário
João Arthur Mohr, superintendente da Fiep, ressaltou a fragilidade do sistema logístico regional, que depende quase exclusivamente do modal rodoviário.
“Diferentemente da região norte do Paraná, que ainda tem uma opção de transporte ferroviário que faz com que cerca de 80% de suas cargas sejam transportadas pelo modal rodoviário e 20% pelo ferroviário, o oeste, centro e leste do Paraná são totalmente dependentes da rodovia. 98% de suas cargas saem pelo modal rodoviário e apenas 2% saem pelo modal ferroviário. Ou seja, qualquer impacto na rodovia é impacto muito grande para o setor produtivo”, afirmou.
Desde 2023, a Serra da Esperança, na BR-277, registrou ao menos seis grandes deslizamentos, de acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF). Três desses episódios resultaram em bloqueios totais da rodovia, como o ocorrido neste mês, trazendo impactos severos à logística estadual e nacional. Paralelamente, o trecho da Serra do Mar, na mesma rodovia, que é o único acesso rodoviário de Curitiba ao porto de Paranaguá, também enfrentou diversos bloqueios e restrições de tráfego ao longo do período.
Serra do Mar também enfrenta problemas
Na Serra do Mar, os bloqueios ocorreram principalmente devido a deslizamentos de terra e obras de recuperação, causando grandes transtornos no fluxo de veículos, especialmente de caminhões, fundamentais para o transporte de cargas destinadas ao porto. Em janeiro e fevereiro de 2023, restrições foram implementadas no tráfego de veículos pesados durante os finais de semana, com o objetivo de reduzir congestionamentos e garantir a segurança dos usuários. Essas limitações abrangeram o trecho entre os quilômetros 30 (viaduto de Morretes) e 60 (antiga praça de pedágio), em horários específicos, para permitir obras em áreas afetadas por desmoronamentos ocorridos no final de 2022.
Em 2024, os impactos das fortes chuvas que afetaram a Serra da Esperança também foram sentidos na Serra do Mar. Em 7 de dezembro, deslizamentos de pedras no quilômetro 43, em Morretes, levaram ao fechamento total da pista sentido Litoral. A interdição durou cerca de 14 horas, e o tráfego foi liberado de forma controlada e alternada, evidenciando mais uma vez a vulnerabilidade estrutural do principal corredor logístico que conecta Curitiba ao Porto de Paranaguá.
Obras planejadas
O trecho da Serra da Esperança está incluído no lote 6 das novas concessões rodoviárias do Paraná, cuja licitação está prevista para a próxima quinta-feira, 19 de dezembro. O edital prevê obras como duplicação do trecho, construção de viadutos e melhorias na iluminação.