Por Luiza Rampelotti
Paranaguá enfrenta um problema que, apesar de parecer pequeno, tem impactos profundos no dia a dia da população: a desorganização na numeração das casas e estabelecimentos comerciais. Quem já tentou encontrar um endereço na cidade provavelmente percebeu a falta de um padrão lógico, com números que saltam de 50 para 180, por exemplo, ou aparecem fora da ordem convencional. A confusão afeta não apenas os moradores, mas principalmente os profissionais que dependem da identificação rápida dos imóveis para realizar seus serviços.
O impacto dessa desorganização vai além do incômodo: pode custar vidas. Profissionais do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) relatam que a demora para encontrar um endereço pode comprometer o socorro a pacientes em estado grave. Entregadores e técnicos de instalação também enfrentam dificuldades que resultam em atrasos, prejuízos financeiros e até cancelamento de serviços.
Minutos que podem definir a vida ou a morte
Para os socorristas do Samu, cada segundo faz diferença. O tempo de resposta – intervalo entre o chamado e a chegada ao local da ocorrência – pode ser a diferença entre salvar ou perder uma vida. Mas, em Paranaguá, o que deveria ser um deslocamento direto se torna uma busca em um labirinto de numeração irregular.
O coordenador de comunicação do Samu, Rafael Rodrigues, explica como esse problema afeta o atendimento das equipes. “Quando recebemos uma ocorrência, o endereço precisa ser encontrado de forma rápida. Mas, em Paranaguá, é comum o socorrista estar na rua certa e não conseguir encontrar o número indicado. Algumas ruas não seguem uma lógica, os números não são padronizados e isso atrapalha o tempo de resposta”, disse à Ilha do Mel FM.

Segundo ele, a falta de padronização da numeração pode fazer com que um simples deslocamento vire um desafio. “Digamos que estamos buscando o número 504. Normalmente, as ruas seguem uma regra, com os números pares de um lado e os ímpares do outro. Aqui, não. O 500 pode estar ao lado do 620, ou a sequência ser completamente irregular. Muitas vezes precisamos parar a ambulância, entrar em contato com a base para confirmar o endereço e até pedir ajuda de moradores para encontrar o local correto. Isso pode custar minutos preciosos – e, em casos graves, minutos podem fazer toda a diferença”, afirmou.
Entregadores perdem tempo e dinheiro
Os prejuízos também atingem quem trabalha com entregas. Cleverson Oliveira Goulart, entregador de aplicativo, conta que as falhas na numeração tornam seu trabalho mais difícil e menos lucrativo. “Tem rua que a gente entra e já sabe que vai ter problema. Na Avenida Gabriel de Lara, por exemplo, a sequência de números não faz sentido. Se erramos a entrada, temos que dar uma volta enorme para tentar achar a casa certa, porque essa via só tem um sentido. Isso faz a gente perder tempo, atrasar outras entregas e até ser penalizado pelo aplicativo”, comentou.

Outro problema relatado pelos entregadores é a imprecisão do GPS, que muitas vezes não consegue localizar o endereço correto por conta da falta de padronização. “O aplicativo nos manda para um ponto, mas o cliente está a duas quadras dali. O pior é quando ele não responde as mensagens, aí ficamos esperando até o tempo do aplicativo acabar. Em muitos casos, a entrega precisa ser cancelada porque não conseguimos encontrar o endereço. Isso gera prejuízo para nós, que dependemos desse trabalho para ganhar dinheiro”, explicou.
Técnicos de instalação enfrentam dificuldades diárias
Os profissionais responsáveis por instalações de serviços como internet e telefonia também sofrem com a confusão numérica. Valter Beçon, executivo de Mercado em Desenvolvimento da Claro, relata que, em muitos casos, um serviço que poderia ser feito no mesmo dia precisa ser adiado por conta da dificuldade de localizar os imóveis.

“Muitas vendas são feitas pela internet ou telefone, e o cliente espera a instalação rápida. Mas quando chegamos ao endereço, muitas vezes não conseguimos encontrar a casa. O número cadastrado pode simplesmente não existir ou estar longe da sequência correta. Perdemos tempo tentando localizar, entramos em contato com o cliente e, se não conseguimos resolver, temos que remarcar para outro dia. Isso significa que o cliente pode esperar dois ou três dias a mais para receber o serviço”, relatou.
Segundo ele, o problema é agravado pela falta de um banco de dados unificado e confiável. “A informação que temos no sistema pode não bater com a realidade. Cada aplicativo de localização dá um resultado diferente, e isso gera muita frustração tanto para nós quanto para os clientes”, disse.
Prefeitura admite problema, mas fiscalização é inexistente
A Prefeitura de Paranaguá reconhece que a desorganização na numeração é um problema, mas afirma que a numeração oficial dos imóveis foi atualizada em 2015 e, desde então, está em vigor. Segundo o secretário municipal de Urbanismo, Luiz Augusto de Carvalho, essa base de dados é enviada anualmente aos Correios e consta nos carnês do IPTU.
O problema, segundo ele, é que muitos moradores e comerciantes continuam utilizando a numeração antiga. “Até hoje não houve fiscalização específica sobre isso, mas a Prefeitura pretende iniciar uma campanha educativa para conscientizar a população”, informou o secretário à Ilha do Mel FM.
O objetivo dessa campanha é informar sobre a importância de manter a numeração correta e visível, principalmente para facilitar serviços essenciais, como entregas e atendimentos de emergência
A solução depende de todos
Enquanto a campanha não sai do papel, cabe a cada morador fazer sua parte. Atualizar a numeração do imóvel e garantir que ela esteja visível pode evitar transtornos para entregadores, técnicos e, principalmente, socorristas que precisam agir rápido para salvar vidas.