Uma situação envolvendo a inclusão de uma criança autista em uma escola de Paranaguá gerou indignação e mobilização de pais, vereadores e da gestão municipal. O caso foi exposto pelo vereador Ricardo dos Santos (PP) na Câmara de Vereadores na última segunda-feira (25).
A Ilha do Mel FM conversou com Amaury Camilo Sampaio, pai de Adryan Gabriel, uma criança autista com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e Síndrome de Asperger. Segundo ele, seu filho teve dificuldades no processo de inclusão escolar desde o pré-escolar. “Adryan frequentava a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) até o ano retrasado e, posteriormente, foi inserido na rede regular de ensino, onde enfrentou obstáculos devido à falta de preparo de alguns profissionais”, diz.
Segundo Amaury, no primeiro ano do ensino fundamental, o menino começou a apresentar grande evolução sob os cuidados da professora de apoio Tânia Roseto. Diante dos avanços, ele e sua esposa, Jamille Cristiane, buscaram a Secretaria Municipal de Educação para solicitar a continuidade da professora no acompanhamento do filho. “A professora Tânia foi essencial no aprendizado do Adryan. A evolução dele foi enorme e nós ficamos maravilhados com o trabalho dela”, conta Amaury.
O pai afirmou que a Secretaria de Educação havia indicado que a profissional poderia permanecer na função. No entanto, ao retornar ao órgão antes do início do ano letivo de 2025, a família foi informada de que não havia registros formais da solicitação e que a professora havia assumido outra escola. “Achamos estranho, porque nos informaram que ela optou por um local mais próximo de casa, mas isso não fazia sentido, pois a residência dela não fica perto da escola que assumiu“, relata o pai.
Sem apoio especializado, Adryan teve dificuldades para iniciar o ano letivo. “Ele não tem condições de frequentar a escola sem uma professora de apoio. Só quem convive com ele sabe disso”, explica Amaury.
Constrangimento na escola
Após tentativas frustradas de resolver a situação administrativamente, a família foi até a Câmara de Vereadores, onde recebeu apoio do vereador Halleson Stieglitz (União) e conseguiu intermediar uma reunião com o prefeito Adriano Ramos (Republicanos). O gestor municipal, segundo Amaury, se comprometeu a ajudar e, pouco depois, a Secretaria de Educação indicou uma nova professora de apoio.
No entanto, um episódio dentro de uma escola municipal (que não será identificada para não expor os envolvidos) gerou indignação. O pai relata que, ao se reunir com a nova professora de apoio e a equipe pedagógica para repassar informações sobre as necessidades do filho, a então diretora da unidade interrompeu a conversa e desconsiderou as preocupações da família.
“Ela abriu a porta e disse: ‘Muito bem pais, muito bem professores. Está tudo resolvido, já tem a professora de apoio, agora deixem os professores trabalharem. O Adryan na minha gestão será tratado como qualquer outra criança, sem privilégios’”, relatou Amaury.
O pai afirma que tentou argumentar sobre as necessidades específicas do filho, mas a diretora insistiu que ele deveria ser tratado como qualquer outra criança. “Me senti impotente, sem defesa. Eu não podia fazer nada, não podia me exaltar, porque poderia ser preso, mas ali me senti um nada”, desabafa.
Diante da situação, Amaury solicitou que o ocorrido fosse registrado em ata e seguiu buscando providências.
Diretora é destituída do cargo
Na quarta-feira (26), o Diário Oficial do Município publicou a destituição da diretora do cargo e a nomeação de um novo gestor para a escola. No entanto, segundo Amaury, antes de deixar a instituição, a ex-diretora levou o livro de atas da escola. “Isso é crime. A ata é um documento oficial e precisa ser mantido”, denuncia o pai.
O caso gerou repercussão entre famílias de alunos e reforçou debates sobre a necessidade de uma política mais eficaz para garantir a inclusão escolar de crianças atípicas. “A inclusão não pode ser apenas um discurso bonito. Na prática, a realidade é outra, e muitos pais passam por isso em silêncio”, pontua Amaury.
Ele reforça que buscará responsabilização legal pela conduta da ex-diretora. “Vou registrar um boletim de ocorrência. Meu filho tem direito a uma educação de qualidade e a ser tratado com respeito”, conclui.
O que diz a ex-diretora
À Ilha do Mel FM, a ex-diretora da unidade, que prefere não ter seu nome exposto, informou que, até o presente momento, ainda não teve acesso a qualquer documento oficial que trate dos fatos mencionados. Ela ainda afirmou que só teve ciência quanto à dispensa da função através do Diário Oficial do Município.
“Não tive sucesso ainda no contato com a atual secretária municipal de Educação. Ressalto que sempre exerci minhas funções com ética, responsabilidade e respeito a toda a comunidade escolar, sem nada que desabone minha conduta profissional. Nunca houve desrespeito ao menor mencionado e a sua família. Estou à disposição para esclarecer os fatos de forma objetiva e transparente. Diante disso, aguardo a comunicação oficial da SEMEDI para que os fatos sejam devidamente esclarecidos, reafirmando meu compromisso com a verdade e como profissional da educação”, disse.