Por Luiza Rampelotti
Na última sexta-feira (16), foi comemorado em todo o Brasil o Dia do Gari, uma data simbólica criada para homenagear os profissionais que se dedicam à limpeza urbana – aqueles que, mesmo na invisibilidade cotidiana, são fundamentais para manter as cidades limpas, seguras e saudáveis. Em Paranaguá, como em tantas outras cidades brasileiras, são eles que enfrentam sol forte, chuva, cansaço e riscos diversos para garantir que ruas e praças estejam em condições dignas para a população e os visitantes.
A origem do termo “gari” remonta ao Rio de Janeiro do século XIX, em referência a Pedro Aleixo Gary, francês que fundou a primeira empresa de coleta de lixo da capital fluminense. Desde então, o nome passou a designar os trabalhadores que realizam a varrição, coleta e manutenção da limpeza urbana – profissão que, apesar de essencial, ainda sofre com falta de valorização.
Investimento de milhões
Em Paranaguá, a limpeza pública é executada pela empresa Paviservice desde 2015. A contratação inicial ocorreu por meio da Licitação nº 06/2015, com vigência até dezembro de 2021. Durante esse período, a empresa recebeu mais de R$ 85,8 milhões pelos serviços prestados.
Em 2020, a Prefeitura de Paranaguá lançou uma nova licitação (nº 10/2020) para contratação de empresa especializada na prestação de serviços indivisíveis de coleta, transporte e destinação de resíduos sólidos, capina, roçada, varrição, além da locação de caçambas, equipamentos, veículos e mão de obra, abrangendo tanto as áreas urbanas quanto rurais, além de ilhas e praias do município. A Paviservice venceu novamente o certame e firmou novo contrato em 2021, com vigência até dezembro de 2025. A última prorrogação contratual foi assinada em dezembro de 2024. Conforme dados oficiais, o valor total atualizado deste segundo contrato ultrapassa R$ 216,2 milhões.
Somando os valores recebidos ao longo das duas contratações — entre 2015 e 2025 — a empresa acumula, em dez anos de atuação no município, mais de R$ 302 milhões em pagamentos públicos.
Os desafios da limpeza urbana
Com uma estrutura voltada à manutenção da cidade, a Paviservice é responsável por empregar centenas de garis que atuam diariamente nas ruas. Paulo Sergio Herder, coordenador de operações da empresa, explica que os profissionais da limpeza urbana enfrentam inúmeros desafios em seu dia a dia — da precarização no descarte de resíduos aos riscos físicos e emocionais da função.

“Os garis são todos os profissionais que atuam na limpeza urbana, tanto coletores quanto varredores. É uma atividade de mão de obra pesada, difícil de contratar. E a população, infelizmente, ainda descarta resíduos de forma incorreta, misturando vidro quebrado, agulhas e até objetos perfurocortantes com o lixo comum”, relata Paulo em entrevista à Ilha do Mel FM.
Outro problema recorrente são os incidentes com animais soltos ou situações de violência urbana. “Já tivemos profissionais atacados por pessoas em situação de rua e também por cães. E o que a gente percebe é que a população só se lembra do gari quando o lixo não é recolhido ou quando a praça está suja. É uma profissão que só ganha visibilidade pela ausência, e não pelo seu impacto cotidiano”, lamenta.
Para o coordenador, o Dia do Gari é uma oportunidade de conscientização e reconhecimento. “Esses trabalhadores saem de casa cedo, enfrentam riscos, e sua atuação impacta diretamente na qualidade de vida da população. Menos lixo nas ruas significa menos mosquitos, ratos e doenças. Eles não são apenas garis, são agentes de saúde pública e bem-estar urbano”, destaca.
O relato de quem vive a rotina
Felipe de Lima, de 27 anos, trabalha como gari há quase dois anos em Paranaguá. Ele reconhece que muitas pessoas valorizam o serviço, mas aponta que ainda há quem ignore sua importância ou trate os profissionais com desdém.
“A maior dificuldade é quando os moradores não separam o reciclável do orgânico, colocam vidro quebrado em sacos e não pensam nos riscos que a gente corre. Eu vejo que a maioria da população elogia a gente, mas sempre tem aquele morador que não reconhece nosso trabalho e trata a gente com ignorância e falta de respeito”, conta Felipe.

Para ele, a conscientização da população é parte fundamental do processo. “É muito importante as pessoas entenderem o que fazemos. A limpeza da cidade não é só uma questão de aparência, é sobre o bem do meio ambiente e o bem de todos”, afirma.