Por Luiza Rampelotti
Marcelo Correa da Costa, mais conhecido como Marcelo Péke Bocudo (Republicanos), se elegeu o vereador mais votado de Paranaguá na última eleição, impulsionado por uma página nas redes sociais dedicada a criticar a administração anterior. Com um discurso pautado na independência e na fiscalização do poder público, Péke chegou à Câmara sob a expectativa de como se comportaria no mandato, já que, apesar da postura combativa, faz parte da base de apoio do prefeito Adriano Ramos (Republicanos). No entanto, sua primeira grande declaração em plenário já revelou fissuras nesse grupo.
Durante a sessão da Câmara Municipal desta terça-feira (4), Péke expressou descontentamento com o fato de não ter sido consultado sobre um projeto relacionado à implementação do Armazém da Família em Paranaguá. O programa, já consolidado em Curitiba há mais de três décadas, visa oferecer produtos alimentícios e de higiene a preços reduzidos para famílias de baixa renda. A proposta foi apresentada pelos vereadores Edilson Caetano (Republicanos) e Márcio Mesquita – Gigante (Republicanos), mas, segundo Péke, deveria ter contado com sua participação mais ativa, dado seu envolvimento prévio na defesa do projeto.
“Não tenho vaidade”, repetiu o vereador ao longo do discurso, enquanto lamentava que seus colegas de bancada não o tivessem comunicado sobre a iniciativa. “O mínimo que tinha [que ser feito] da parte de vocês era me comunicar, sabendo que fui a Curitiba ver o projeto. Inclusive ontem o Adriano Ramos estava aqui e ele mesmo falou para eu fazer esse requerimento. Mostra que é um grupo, mas é um grupo não unido”, afirmou.
O episódio chamou atenção pelo tom de queixa do vereador, que insinuou existir um “grupo fechado” dentro da base governista. “Peço desculpa para os amigos aí, talvez tenha faltado comunicação ou talvez exista um grupo fechado no qual eu não faço parte”, disse, sinalizando um possível isolamento dentro do bloco que ajudou a elegê-lo.
Pouco depois da fala de Péke, o vereador Márcio Gigante anunciou o arquivamento do projeto e informou que irá incluí-lo como coautor da proposta antes de reapresentá-la ao plenário. À Ilha do Mel FM, o parlamentar destacou que “[tudo o que aconteceu] foi uma falta de comunicação. Eu me dispus a retirar a matéria para que fizéssemos em três mãos. [Aconteceu] somente um mal entendido, mas tudo resolvido com meu pedido de fazermos nós três“.
Apesar da insatisfação inicial, Péke garantiu apoio ao projeto e reforçou que seu compromisso é com a população. “Pode ter certeza que esse vereador vai estar o tempo todo trabalhando em prol de vocês e não é uma vaidade que vai fazer eu votar contra essa proposta”, disse.
O projeto já havia sido proposto em 2021 e arquivado
O debate sobre a criação do Armazém da Família não é novo na Câmara de Paranaguá. Em 2021, o ex-vereador Bruno Miguel Renosto, o Bruno do Idamir, já havia apresentado um Projeto de Lei para a implantação do programa no município. A proposta, que continha 20 artigos, estabelecia critérios para o acesso ao benefício, determinando que apenas famílias com renda de até dois salários mínimos e entidades assistenciais poderiam participar. O texto também atribuía à Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento a responsabilidade pelo cadastramento dos beneficiários e pela gestão do programa. Clique aqui para ler na íntegra a proposta apresentada na Câmara em 2021.
Na época, Bruno justificava a importância da iniciativa afirmando que o programa asseguraria qualidade de vida à população parnanguara, promovendo segurança alimentar e oferecendo produtos básicos a preços reduzidos. Em meio à pandemia da Covid-19, o vereador destacava que garantir acesso a produtos de higiene a preços mais baixos seria um aliado no combate à disseminação do vírus.
No entanto, o projeto acabou arquivado. Em outubro de 2021, Renosto retirou a proposta após um parecer contrário do Departamento Jurídico da Câmara, que apontou vício de iniciativa. Segundo o parecer, a proposta interferia na autonomia entre os poderes ao impor ao Executivo a criação, manutenção e fiscalização de um programa de segurança alimentar, o que violaria a Lei Orgânica do Município e a Constituição Federal.
Embora a análise jurídica não tivesse caráter vinculante, o parecer serviu de base para a retirada da proposta, e o tema não voltou a ser debatido formalmente na Câmara até agora.