Por Luiza Rampelotti
A violência contra a mulher segue sendo uma realidade alarmante em Paranaguá e no Litoral do Paraná. De acordo com a delegada Maria Nysa Moreira Nanni, que atua na central de flagrantes da Polícia Civil, os casos de agressões físicas, psicológicas e até feminicídios não têm diminuído. “Infelizmente, a violência contra a mulher não tem diminuído. Todos os plantões atendemos várias situações de violência contra a mulher e, aqui no litoral, vemos casos bem graves, envolvendo feminicídio, estupro e outras agressões que impactam profundamente a vida das vítimas“, afirma a delegada em entrevista à Ilha do Mel FM.
O caso da jovem estuprada após show em Paranaguá
Um dos casos recentes que chocou a população de Paranaguá ocorreu no dia 23 de fevereiro, quando uma jovem foi estuprada após sair de uma casa de shows, onde havia assistido a uma apresentação de um MC. A vítima conheceu um rapaz no local e deixou a casa de eventos acompanhada por ele. Em determinado momento, manifestou a vontade de ir ao banheiro, e o agressor a levou até um posto de combustíveis abandonado. Lá, quando a jovem estava indo até o banheiro, foi seguida e violentada.
Logo após o crime, a vítima conseguiu buscar ajuda e se dirigiu à delegacia para formalizar a denúncia. Parte do ato criminoso foi registrada por câmeras de segurança próximas ao local, que captaram, em áudio e vídeo, o momento em que o agressor arrasta a jovem enquanto ela grita por socorro. Mesmo diante das imagens e do pedido de prisão preventiva feito por uma delegada de Paranaguá, o juiz responsável pelo caso não acatou a solicitação, determinando apenas medidas cautelares, como o monitoramento eletrônico enquanto o rapaz responde ao processo em liberdade.
No entanto, antes mesmo de ter a tornozeleira eletrônica instalada, o agressor fugiu e, até o momento, não foi localizado.
A amplitude da violência contra a mulher
A definição da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre violência contra a mulher abrange qualquer ato que cause danos físicos, sexuais ou psicológicos, incluindo ameaças, coerção ou privação de liberdade, tanto em espaços públicos quanto privados. A delegada reforça que a violência vai além das agressões físicas evidentes. “A própria Lei Maria da Penha esclarece isso. A violência não é apenas física, que deixa a marca. Ela vai da parte psicológica e emocional até o feminicídio. Há uma gradação, e o desrespeito pode começar com uma ofensa, uma ameaça, uma perseguição ou uma perturbação psicológica“, explica.
A delegada destaca que muitas mulheres não identificam as primeiras manifestações do comportamento abusivo e, por isso, demoram a buscar ajuda. “Quando uma mulher percebe que está em um relacionamento abusivo, seja casada ou namorando, com um homem ou outra mulher, ela deve procurar o atendimento da Polícia Civil. Muitas vezes, é necessário fazer o pedido de medida protetiva para se afastar daquela pessoa que está causando mal a ela”, orienta.
Apoio além da denúncia
Para a delegada, é essencial divulgar que há políticas públicas disponíveis para garantir o suporte necessário às vítimas. “O atendimento à mulher precisa acontecer de forma global, não apenas na delegacia. Depois que a mulher sai da delegacia, como ela vai retomar a vida? Como vai enfrentar aquele problema que está modificando sua realidade?“, questiona.
Em Paranaguá, existe a Rede de Proteção à Mulher, um dos principais fatores para romper o ciclo da violência. Além do atendimento policial, existem serviços de acolhimento psicossocial, casas de abrigo, assistência jurídica gratuita e programas de reinserção no mercado de trabalho para mulheres vítimas de violência. O fortalecimento dessas iniciativas e a ampliação do acesso a essas políticas públicas são essenciais para que as mulheres consigam reconstruir suas vidas com segurança.
Dia Internacional da Mulher: um momento de luta e celebração
O enfrentamento à violência de gênero passa, necessariamente, pela conscientização e pelo fortalecimento da luta feminista. Neste sábado (8), Paranaguá recebe uma programação especial em celebração ao Dia Internacional da Mulher, um momento de empoderamento e mobilização social.
O evento acontece na Praça Mário Roque, das 9h às 18h, reunindo movimentos sociais, coletivos feministas e atividades culturais. Para a delegada, é fundamental que as mulheres participem. “O Dia Internacional da Mulher não é apenas um dia de luta contra a violência, mas também um dia para olharmos além disso, para celebrarmos os direitos conquistados, reforçarmos o reconhecimento da nossa voz e ampliarmos a luta por novas conquistas“, diz Maria Nysa.
A programação conta com apresentações artísticas, debates e manifestações organizadas por grupos feministas, como a Marcha Mundial das Mulheres, que tradicionalmente promove a “Fuzarca Feminista” — uma manifestação festiva com músicas e palavras de ordem para reforçar a necessidade de mobilização. “A fuzarca é uma forma de mostrar que precisamos fazer barulho, que nossa voz precisa ser ouvida. É um momento de elevar o ânimo das mulheres e lembrar que a luta por direitos precisa ser contínua“, destaca a delegada.
Denunciar é fundamental
A violência contra a mulher não pode ser ignorada. Denúncias podem ser feitas de forma anônima pelo telefone 180, que atende mulheres em todo o país, ou diretamente nas delegacias da Polícia Civil. Em casos de emergência, o número 190 da Polícia Militar deve ser acionado imediatamente.