Por Luiza Rampelotti com informações de AGFeed
Em meio a um cenário de crise no setor de insumos e à reestruturação imposta por sua recuperação judicial, a Fertilizantes Heringer – controlada pela multinacional russa Eurochem – anunciou a reativação da unidade instalada em Paranaguá. A operação deve ser retomada até junho e representa um novo fôlego para a companhia, que enfrenta dificuldades financeiras e acaba de confirmar a “hibernação” de mais três plantas industriais no Brasil.
As fábricas de Rio Verde (GO), Ourinhos (SP) e Iguatama (MG) terão suas atividades suspensas por tempo indeterminado, conforme comunicado divulgado ao mercado na última semana. Somam-se a essa lista as unidades de Dourados (MS) e Rosário do Catete (SE), paralisadas em outubro de 2024, além da planta de Porto Alegre (RS), fora de operação desde 2020. Em Paranaguá, a unidade havia sido desativada em 2019, resultando na demissão de cerca de 400 trabalhadores à época.
A decisão, segundo a empresa, está fundamentada em uma “baixa performance financeira histórica” e na “baixa perspectiva de viabilidade econômica standalone das plantas em questão no atual contexto de mercado”. O objetivo é reduzir custos fixos e concentrar a produção em unidades com maior potencial de retorno, como a de Paranaguá.
Paranaguá ganha protagonismo
De acordo com Marcelo Ferri, diretor de Desenvolvimento de Mercado da Eurochem e responsável pela atuação da companhia na região Sul, a unidade localizada no porto de Paranaguá deverá iniciar suas atividades em um prazo de 60 dias. A planta foi mantida em hibernação nos últimos anos, mas agora será reativada com foco inicial na produção de fertilizantes simples.
“A EuroChem está modernizando suas instalações na unidade de Paranaguá para atender às mais exigentes normas ambientais e operacionais. Com o cumprimento das condicionantes da Licença Prévia, estaremos prontos para solicitar a Licença de Instalação, reafirmando nosso compromisso com a retomada das atividades de mistura e armazenamento na região. A solicitação da Licença de Operação Parcial viabilizará a reativação das operações que estiveram em funcionamento até 2019, antes da paralisação da unidade. Dessa forma, continuamos a investir no crescimento e fortalecimento de nossas operações em diversas regiões do Brasil, impulsionando o desenvolvimento do setor e contribuindo para o avanço da agricultura nacional“, informa a multinacional.
A estimativa da companhia é movimentar, ainda em 2025, cerca de 500 mil toneladas a partir da unidade paranaense. A capacidade total da planta chega a 800 mil toneladas, podendo ser ampliada para até 1 milhão de toneladas. Se a projeção se confirmar, o incremento nas vendas pode representar um crescimento de 8% para a Eurochem no Brasil, mesmo com a manutenção do volume atual nas demais regiões.
A companhia planeja investir R$ 200 milhões em 2025, parte desse montante já direcionado à reativação da unidade de Paranaguá, que está situada no principal porto do país em movimentação de fertilizantes.
Recuperação judicial e prejuízos bilionários
Desde 2021, quando a Eurochem assumiu o controle acionário da Fertilizantes Heringer, a empresa tenta reverter um quadro financeiro delicado. No balanço mais recente, a companhia reportou um prejuízo líquido de R$ 1,15 bilhão em 2024 – 219% maior que o déficit de R$ 361 milhões registrado em 2023. A receita líquida também caiu: foram R$ 4,6 bilhões no ano passado, uma retração de 13,6% em comparação ao ano anterior.
As dificuldades de caixa e a oscilação nos preços dos insumos agrícolas forçaram a Heringer a manter parte de suas 14 unidades industriais inativas, com decisões de reativação ou venda sendo avaliadas individualmente. Segundo o comunicado oficial, as plantas de Ourinhos, Iguatama e Rio Verde ainda estão sob análise, com possibilidades futuras de venda ou reabertura caso o cenário de mercado se altere.
A planta de Rio Verde, por exemplo, já havia ficado paralisada entre 2019 e 2021, durante os primeiros momentos da recuperação judicial.
Impacto regional
A reativação da unidade de Paranaguá deve gerar impacto direto na economia local. Além de criar empregos e movimentar a cadeia logística da região, a retomada das operações fortalece ainda mais o porto de Paranaguá como polo estratégico na importação e distribuição de fertilizantes no Brasil.